terça-feira, 26 de junho de 2012

Papel aceita tudo!


Uma coisa sempre me incomodou quando leio a afirmação corrente de que Parmênides e Heráclito excluem-se um ao outro teoricamente. Os dualismos excludentes ad infinitum são possíveis? Existem? É possível que esses dualismos deixem de existir numa conciliação que põe fim o seu caráter excludente? Os contrários na verdade não são opostos, mas integrados na produção deles próprios alternativamente: a visão de mundo em mutação dos antigos chineses Admitindo um sim, podemos dizer que se existem contrários que ainda não atingiram esse outro nível integrador é porque tal fato não se revelou, manifestou, se desvelou, ou seja, realizou-se como fenômeno. Até aqui um total palavreado carente de certeza científica, mas com alguma chance de ter uma serventia: investigar para tentar fazer aflorar o que não quer se mostrar como evidente. Mais um problema: quando um fenômeno não se mostra evidente isso ocorre porque simplesmente não existe tal fenômeno, já que essa é a característica fundamental do fenômeno: mostrar-se.
O tudo é fluxo e o tudo é uno são opostos excludentes? Não há aqui aquela situação na qual um engendra o outro sucessiva e alternadamente no caminho trilhado pelo cosmos, ou pelo Tao? O “não ser” (WU) característico do Tao é o oposto da Pré-sença de Heidegger? O ser e o nada de Sartre? Temos que continuar perguntando: o logos de Heráclito é o WU ou a pré-sença? Parmênides nega o WU, o nada, o não ser, de acordo com ele de forma lógica só é possível o ser: se algo existe não pode ser, ao mesmo tempo, o que não existe. Parmênides conclui que a mudança não é possível. No entanto, o fato de ter existência não determina a imutabilidade. O ser pode ser o que existe e ao mesmo tempo caracterizar-se pela mudança contínua e infinita. Dessa forma: o uno pode ser puro fluxo.O fluxo do uno que se mostra, que pode ser descrito, no Taoísmo, não é o verdadeiro caminho. Esse não se mostra: tem a qualidade do não ser. Para a fenomenologia, no entanto é o que importa entender, explicar, compreender justamente o desvelamento do que existe.
O logos divino de Heráclito pode ser o Deus que tudo observa de Berkeley. O logos divino tudo governa e o Deus que tudo vê. O que muda entre a opção pelo governar e o ver? O olhar enquanto manifestação fundamental do cosmos nos leva à postura empirista inglesa. O governar manifesta a origem política do Taoismo? A visão de mundo em mutação constante dos chineses é o mesmo tudo é fluxo de Heráclito. A influência oriental na origem da Filosofia Ocidental é evidente. Enquanto a filosofia oriental manteve-se praticamente a mesma ao longo do tempo como uma tradição que não se alterou a filosofia ocidental adentrou-se por meandros diversos com resultados diversos, ora com hegemonias teóricas, verdadeiros paradigmas que foram sendo questionados e substituídos por outros. Talvez isso indique um conhecimento sólido que se mantém vivo com o passar dos séculos de um lado e, por outro, um conhecimento que ora acha que encontrou um terreno sólido para em seguida trocá-lo por outro. E, além disso, passaram a existir as dicotomias polêmicas tais como: racionalismo X empirismo; monismo X pluralismo, materialismo X idealismo, entre outros. Os mesmos ensinamentos de Lao Tse, Confúcio, Sidarta Gautama continuam os mesmos ainda hoje. Parmênides está contido em Heráclito. P H. Não restam dúvidas de que uma ou várias ideias surgem com alternativos rótulos em momentos e lugares diferentes. Projeto: inventariar tal fato. Futuramente talvez seja possível. 

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