quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Homenagem a um dos maiores poetas da língua inglesa: John Keats (1795-1821)



John Keats (1795-1821).


“Poeta cujo nome estava escrito em água”

“Em Keats, o preciosismo e a ornamentação de linguagem mescla-se à invenção verbal e à melissonância do verso como dificilmente podemos encontrar em outro poeta inglês.” (Alberto Marsicano e John Milton)


...

Hino à Tristeza (Excertos)

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A rubros lábios o matiz nativo da saúde?
                    Para dar rubores de donzela
                    Às moitas de roseiras brancas?
Ou tua mão de orvalho é a ponta das boninas?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
Ao olho do falcão o ardor brilhante?
                   Para dar luz ao vaga-lume
                   Ou, em noite sem lua,
Tingir, em praias de sereia, a inquieta água do mar?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A uma plangente voz canções suaves?
                   Para dá-las, na noite fresca,
                   Ao rouxinol
Que possas escutar entre os serenos frios?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
À alegria de maio o júbilo do coração?
                   Nenhum amante pisaria
                   A primavera em sua fronte,
Dançasse embora desde a noite até o raiar do dia,
                    - Nem flor alguma languescente,
                    Tida por santa para o teu recesso,
Onde quer que ele folgue e se divirta.

                    ”Ó Tristeza
                    Eu desejei bom-dia
E pensei deixá-la para trás, bem longe,
                    Mas satisfeita, satisfeita,
                    Ela quer-me ternamente;
É-me tão constante e tão amável:
                    Eu queria enganá-la,
                    Assim deixando-a,
Mas ah! ela é-me tão constante e tão amável.

(...)
“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem
Eu sentei-me a chorar: que noiva enamorada,
Se a ilude um vago pretendente, ao vir das nuvens,
                    Não se oculta nem se vela
Sob escuras palmeiras e de um rio à margem?

(...)
 ”Vem pois, Tristeza!
                        Dulcíssima Tristeza! -
No colo nino-te como se filha minha!
                        Eu pensava deixar-te
                        E te iludir,
Porém no mundo inteiro és tu a quem mais quero agora.

(...).
Créditos: tumblr.com 

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COMENTÁRIO:

No mundo do pensamento e do poder mental o poeta vê neblina e rocha. A neblina (mortalha de vapor) encobre os abismos e o conhecimento do homem sobre o inferno, sobre o céu. Na medida em que a neblina vai se espargindo revela-se a terra de forma vaga como o conhecimento do homem sobre si mesmo. Sentindo as pedras ásperas sob seus pés conclui que, o que ele (que se autodenomina “pobre e tolo elfo”) sabe é que pisa sobre elas, e o que seus olhos vêm é somente neblina e rocha.Então, o pobre e tolo elfo mira o abismo que se encontra encoberto por uma mortalha de vapor, para em seguida estabelecer uma analogia entre o conhecimento do homem sobre o inferno e o abismo. Ambos encontram-se encobertos pela mesma mortalha. Em seguida faz o mesmo com o céu, para depois vislumbrar a terra, pisar suas pedras e concluir o que ele vê no mundo do pensamento e do poder mental é somente neblina e rocha.
A neblina encobrindo o que ainda não foi desvelado pela capacidade de conhecer do homem, e a rocha representando o que de melhor essa capacidade produziu?
Musa, Abismo, Terra, Céu aparecem também na Teogonia de Hesíodo: “Disso me narrem, Musas que têm morada olímpica, do princípio, e dizei qual deles primeiro nasceu”. A resposta vem logo a seguir: “Bem no início, Abismo nasceu; depois, Terra largo-peito, de todos assento sempre estável, dos imortais que possuem o pico do Olimpo nevado, o Tártaro brumoso no recesso da terra largas-rotas e Eros, que é o mais belo entre os deuses imortais, o solta-membros, e de todos os deuses e todos os homens subjuga, no peito, espírito e decisão refletida.”
Considerando outras possíveis analogias ou mesmo coincidências, tais como no “Cimo do Ben Neves” velado na névoa e pico do Olimpo nevado: no início o Abismo; na medida em que a neblina que encobre o Céu vai se espargindo aparece a Terra; (Em Hesíodo o Céu nasce de Terra: “Terra primeiro gerou, igual a ela, o estrelado Céu, a fim de encobri-la por inteiro para ser, dos deuses venturosos, assento sempre estável.”), é possível perguntar se ocorreu uma inspiração grega no poeta inglês?A prece ou a lição que a Musa lê para o poeta reza que névoa, vapor e neblina encobrem o conhecimento do homem (pensamento e poder mental) sobre o inferno, sobre o céu, e sobre si mesmo. Seria cético o poeta inglês? Tudo que ele vê é neblina e rocha nas alturas em que se encontra no cimo do Bem Nevis, e também no mundo do pensamento e do poder mental. Cético e realista? Ou será o oposto: acredita somente no sonho que a vida é? Tudo ficando aquém da percepção humana em meio à névoa, ao vapor e à neblina. A vida como um sopro de sonho. 

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COMENTÁRIO:

Em “No Mar” o som (canto das ninfas do mar) e o movimento (calmaria e ventos celestiais) são características ressaltadas na sua “visão-imagem” de mar: (eternos murmúrios; velho e assombroso som; tão tranquilo; dias imóveis; desenlace dos ventos celestiais). Mas, isso não é o que importa. Importa se situar nas invisíveis asas da poesia para que elas se tornem visíveis, audíveis, sensitivas e por que não do sonho, que venham de encontro com a nossa pele e nos faça arrepiar.Escutar as ninfas do mar (quem está com os ouvidos atordoados pelo ruído ou enfastiado da música melosa). Para tanto o poeta pede que sentemo-nos à boca de uma das vinte mil cavernas inundadas pelo mar, em seguida meditar até que seja possível escutar o canto das ninfas do mar.Quem cujos olhos estão atormentados e entediados regozijai-vos com a imensidão do mar.
Da quase imobilidade de uma enorme calmaria ao desenlace dos ventos celestiais: a alternância entre a calmaria e o mar revolto pelos ventos celestiais. Em que céu estaria pensando o poeta?
Até que ocorra o sortilégio de Hécate (Deusa noturna, da vida e da morte, chamada de “A Mais Amável”, “Rainha do Mundo dos Espíritos”, “Deusa da Bruxaria”; a mais antiga forma grega da Deusa Tríplice, que controlava o Paraíso, o Submundo e a Terra.) o mar guarda eternos murmúrios nas praias desoladas e inunda, com suas soberbas cristas, vinte mil cavernas, que passam então a abrigar o seu velho e assombroso som. O canto das ninfas do mar?
Estar no mar é como ter ao seu alcance o gozo do olhar a imensidão do mar, o prazer de poder escutar o canto das ninfas do mar, que moram em uma das vinte mil cavernas inundadas pelos murmúrios eternos do mar.O que se vê e o que se ouve no mar.


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Comentário:
No poema “A Morte” o poeta diz ser a vida nada mais que sonho, e pergunta se a morte (o que pensamos ser a grande dor) pode ser sono. Ainda que o augúrio futuro do estranho vagar do homem na Terra, em sua maldita vida, é somente despertar. Do sono ou do sonho? Sendo a morte sono, resta o sonho. Despertar do sonho leva ao quê? Sendo a vida sonho, uma vez dele desperto chega-se aonde, ao quê? Ou será que despertar do sonho é cair no indesejado sono, na morte?

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(Créditos: Alberto Marsicano e John Milton tradutores dos poemas de Keats na publicação intitulada “Nas Invisíveis asas da poesia”.)

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