terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O que Nietzsche deve a outros (II)

QUINTO HORÁCIO FLACO

Será senhor de si e viverá contente aquele a quem for lícito dizer cada dia: "Aproveitei a vida! Amanhã, pode o Pai dos deuses ocupar com uma negra nuvem ou com sol puro o céu; mas não tornará vão o que é passado nem mudará ou fará que não tenha ocorrido aquilo que nos trouxe uma vez a hora fugidia".


Nietzsche sobre Horácio: Até agora nenhum poeta me proporcionou um encanto artístico comparável ao que experimentei ao ler suas obras. (...) Esse mosaico de palavras em cada vocábulo, tanto por seu timbre especial como por seu lugar na frase e pela ideia que expressa, tem um valor substantivo; esse minimum na soma e o número dos signos e esse maximum na energia dos signos, tudo isso é romano e aristocrático por excelência. 

Quinto Horacio Flaco nasceu em Venúsia a 8 de dezembro de 65 a.C. — Roma faleceu a 27 de novembro de 8 a.C. Foi um poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. É conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma Antiga.

Trecho de uma de suas obras:

Gozar enquanto é tempo!

Póstumo, Póstumo! Os anos - ai de nós! - correm velozes e nem a piedade retardará as rugas, a velhice iminente e a indomável morte. Não o conseguirias, meu amigo, mesmo que imolasses trezentos touros, um cada dia, a fim de aplacar o insensível Plutão, que retém Tício e Gerião, gigante de três corpos, além do triste rio cuja travessia certamente há de ser feita por todos nós, que comemos os frutos da terra, quer sejamos reis, quer pobres camponeses. Em vão fugiremos à guerra sangrenta ou às ondas do rouco Adriático, que se quebram de encontro aos rochedos; em vão recearemos, durante o outono, o vento que faz mal: teremos de ir ver o negro Cócito, que vagueia com seu lânguido curso, e, a infame prole de Dânao e o filho de Éolo, Sísifo, condenado a um eterno trabalho. Terás de abandonar a terra, a casa e a esposa querida e nenhuma das árvores que plantas te há de seguir para além dos odiosos ciprestes; por breve tempo tu és seu dono. Um herdeiro mais esperto que tu beberás todo o Cécubo que guardas com cem chaves e banhará o chão com um vinho magnífico, melhor que o dos jantares dos pontífices...

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O que Nietzsche deve a outros (I)

Cayo Salustio Crispo







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Apesar de algumas considerações sobre seu gosto muito particular que não gosta de aprovar e prefere mais contradizer e negar; que não costuma aprovar em bloco e que poucos foram os autores que influíram em seu estilo e obra, Nietzsche reconhece algumas dessas influências: Salustio, Horácio, Fontenelle, Tucídides, Maquiavel, Jacob Burckhardt, Goethe, Schopenhauer.

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Salustio nasceu em 01 de outubro de 86 a. C e faleceu com 52 anos a 13 de maio de 34 a. C. Seu estilo conciso e uma análise penetrante influenciou Nietzsche que aprendeu latim de um só fôlego surpreendendo seu professor o Senhor Corssen: “Cerrado, severo, com muita substância de fundo, com uma fria malevolência para com a frase bela e os belos sentimentos, Salustio fez com nessas qualidades suas eu adivinhasse a mim mesmo.” (Crepúsculo dos Ídolos).


Trecho de sua obra mais importante: Conjuração de Catilina.


 Em tempos remotos os Reis (este foi o nome que se deu no mundo aos primeiros que mandaram) já exercitavam o ânimo, o corpo, segundo o capricho de cada um: ainda passavam os homens a vida sem ganância: todos estavam contentes com sua sorte. Mas depois que Ciro na Ásia, e na Grécia os Lacedemônios e Atenienses começaram a subjugar os povos e nações, a guerrear somente pelo capricho de poder mandar, e a medir sua glória pela grandeza de seu Império; então mostrou a experiência e os sucessos que o fundamental da guerra é o engenho, a estratégia. E para dizer a verdade se os Reis e Generais fizessem tanto uso dela no tempo de paz, como na guerra, com mais teor de igualdade iriam as coisas humanas, nem as veríamos tão mudadas e confusas: porque o mando facilmente se conserva pelas virtudes mesmas com que a princípio se alcançou. Porém logo que ocupa o lugar do trabalho a preguiça, e o capricho e soberba o da moderação e equidade, muda juntamente com os costumes a fortuna: e assim passa sempre o Império do mal e não merecedor aos melhores e mais dignos. A terra, os mares, e quanto encerra o mundo está sujeito à invenção humana; mas existem muitos que entregues à gula e ao sono passam sua vida, como peregrinado, sem ensino nem cultura; aos quais, trocada a ordem da natureza, o corpo serve somente para o deleite, a alma é apenas fardo e embaraço. Para mim não é menos considerável a vida destes que a morte, porque nem de uma nem de outra fica memória: e me parece que só vive e goza da vida o que ocupado honestamente procura conseguir fama por meio de alguma façanha ilustre ou virtude excelente. Mas como existem tantos caminhos, a Natureza guia cada um pelo seu.

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