Experiência poética IV: Quero ver-te.

Quero ver-te.

Jairo Melgaço.

Quero ver-te com os cabelos longos 
E ainda úmidos do banho recente,

Vindo a passos lentos em minha direção,

Com o seu olhar sensual fixo no meu receptivo e ardente,

Como alguém que no deserto 
Com os lábios ressecados da longa falta d’água

Tem a vertigem de estar vendo um azul lindo lago,

Da mais doce água fresca disponível,

Não só para saciar tamanha sede,

Mas também todo seu calor,

Que pulsa em teu colo macio e aconchegante,

Onde roço todo meu rosto, meus lábios, meus olhos,

Acariciando tua pele macia e voluptuosa,

Sedenta de carinho somente meu.

Quero ver-te com todo seu corpo carnudo e torneado,

Ao balanço de sua silueta tão ardente e sedenta 
Do toque meu,

Do afago meu,

Do afeto meu,
Do abraço terno que é somente teu,

Em forma de uma única perfeita concha,

Onde minha frente encaixa-se no teu verso,

Abrigando ternamente um ao outro,

Misturando perna e coxas,

Ventre e quadril,

Numa fusão de metal derretido,

Que aos poucos vai esfriando,

Enrijecendo,

Penetrando,

Fundo,

Fundindo nossas almas,

Numa totalidade única,

Saciando toda carência e desejo,

Tornando-nos um único ser,

Pleno do desejo e cheio do gozo,

Do prazer do amor intenso,

Que nossos corpos,

Corações e mentes,

Compartilham desse único e eterno êxtase,

Inebriante que somente se deixa vencer pelo cansaço,

Que vai, aos poucos, nos fazendo fechar os olhos,

Languidamente,

Sentindo um,

O calor do outro se esvaecendo...

Aos poucos um cochilar,

Mas ainda despertos e ávidos,

Do próximo inebriante encontro amoroso e carnal nosso,

Sonhando com uma possível superação 
Das limitações mentais e físicas humanas,

Para estarmos sempre assim como estamos agora,

Plenos do desejo e da satisfação completa,

Que se misturam ardente e eternamente,

Em nossos lábios,

Em nossos ventres,

Em nossas mentes,

Em nossos corações,

Em nossos mundos,

Eternamente explosão do prazer simultâneo,

Lânguido,

Pleno,

Eterno,

Perfeito,

Máximo,

Que é

Só, única e egoisticamente,

Inteiramente nosso,

E de mais ninguém!