sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Prosopopeia XII




A crítica de Nietzsche à crítica de Kant segundo Deleuze (Nietzche e a Filosofia) nos remete a uma das besteiras pretensamente filosófica que o bípede sem penas de unhas largas que pensa, fala e escreve tudo que o papel ou a tela do notebook aceita expressou, sob o título prosopopeia. Seguindo a exposição de Deleuze, e se ele estiver certo no que diz, o que parece muito provável, realmente temos que aceitar que para um futuro possível florescimento filosófico, necessário se faz partir não de Kant, mas de Nietzsche. Se não vejamos: “(...) Nietzsche em A Genealogia da Moral, quis refazer a Crítica da Razão Pura. (...) A crítica em Kant não soube descobrir a instância realmente ativa, capaz de conduzi-la. Esgota-se em compromissos: nunca nos faz superar as forças reativas que se exprimem no homem, na consciência de si, na razão, na moral, na religião. (...)  Parece que Kant confundiu a positividade da crítica com um humilde reconhecimento dos direito do criticado. Nunca se viu crítica total mais conciliatória, nem crítico mais respeitoso. (...) a crítica de Kant não tem outro objeto a não ser justificar, ela começa por acreditar no que ela critica. (...) Nietzsche, nesse domínio tanto quanto nos outros, pensa ter encontrado no que chama seu ‘perspectivismo’ o único princípio possível de uma crítica total. Não há fato nem fenômeno moral, mas sim uma interpretação moral dos fenômenos (VP, II, 550). Não há ilusões do conhecimento, mas o próprio conhecimento é uma ilusão: o conhecimento é um erro, pior ainda, uma falsificação. (...) Kant concluiu que a crítica deveria ser uma crítica da razão pela própria razão. Não é essa a contradição Kantiana? Fazer da razão ao mesmo tempo o tribunal e o acusado, constituí-la como juiz e parte, julgadora e julgada. (...) Quem se mantém atrás da razão, dentro da própria razão? (...) Com o nome de razão prática ‘Kant inventou uma razão expressamente para os casos em que não se tem necessidade de preocupar-se com a razão, isto é, quando é a necessidade do coração, a moral, o dever que falam (VP, I).’ (...) No irracionalismo não se trata de algo que não seja pensamento, que não seja pensar. O que é contraposto à razão é o próprio pensamento; o que é contraposto ao ser racional é o próprio pensador. (...) O legislador de Kant é um juiz de tribunal, um juiz de paz que fiscaliza ao mesmo tempo a distribuição dos domínios e a repartição dos valores estabelecidos. (...) Na crítica não se trata de justificar, mas sim de sentir de outro modo: uma nova sensibilidade.” Por enquanto é Nietzsche, daqui a pouco pode ser outro... 

Prosopopeia XI



Qual foi a ideia que Heidegger não quis reconhecer em Nietszche (Deleuze)? Para Nietzsche nunca existiu o Ser. Ele negou o Ser. Junto com Heráclito passou a acreditar apenas no vir-a-ser. O movimento eterno do espaço-tempo no seu eterno retorno como conceito base de explicação da realidade. Nada é, nem está, e nunca esteve parado, estático. Tudo é fluxo.  Movimento (teleológico?) na direção do eterno retorno do mesmo. Isto nos remete às possíveis respostas teoricamente aceitas para a pergunta sobre o início do Universo, da realidade, se existiu algo antes do Big Bang? Uma delas defende a ideia do eterno retorno do mesmo, na medida em que explica o Universo no tempo, como uma eterna expansão-contração cíclica de toda sua massa. Um Big Bang seguido de uma expansão do espaço-tempo até o seu limite, o limiar da expansão, que se transforma em retração, fazendo todo o Universo se reduzir novamente à bolinha de tênis, que explodira anteriormente, e que novamente explodirá ao chegar ao antípoda daquele mesmo limiar da expansão, que agora atinge o limiar da contração, que gera a energia necessária para a explosão, começando tudo de novo. Partindo da opção por considerar esses argumentos válidos, e concordando com o fato de que não existe Ser, que tal coisa não passa de uma ideia que não se realiza enquanto realidade empírica, uma vez que não é possível jamais fazer do Ser um mapa, por que sua paisagem não existe, não existe uma Paisagem do Ser, porque não existe Ser, como fica Parmênides neste contexto? Para que o Ser exista é preciso que a Natureza resolva congelar seu fluxo vital, ou seja, seu ciclo de vida, sua existência. Seria como se a Natureza resolvesse ser o que nunca foi, como ser um quadro no rolo de filmagem de uma história com duração de no mínimo alguns muitos bilhões de anos. Não dá para parar o filme para o Ser ser. Tornar-se Ser. Porque o conceito de Ser para se adequar à coisa que designa, que dá nome ou, por outro lado, substitui no raciocínio, na utilização da razão, para que seja possível pensar o Ser, primeiro precisa que a coisa de fato exista. Como não existe Ser não existe filosofia do ser, ontologia? Ou a ontologia teria como sua preocupação primeira o Sendo? Como ficaria, então, a questão da filosofia de Heidegger ser um dos pilares da ética contemporânea? Entretanto, a quem pode interessar tal questão?