A crítica de Nietzsche à crítica de Kant segundo Deleuze (Nietzche e a Filosofia) nos remete a uma
das besteiras pretensamente filosófica que o bípede sem penas de unhas largas
que pensa, fala e escreve tudo que o papel ou a tela do notebook aceita
expressou, sob o título prosopopeia. Seguindo a exposição de Deleuze, e se ele
estiver certo no que diz, o que parece muito provável, realmente temos que
aceitar que para um futuro possível florescimento filosófico, necessário se faz
partir não de Kant, mas de Nietzsche. Se não vejamos: “(...) Nietzsche em A
Genealogia da Moral, quis refazer a Crítica da Razão Pura. (...) A crítica em Kant
não soube descobrir a instância realmente ativa, capaz de conduzi-la. Esgota-se
em compromissos: nunca nos faz superar as forças reativas que se exprimem no
homem, na consciência de si, na razão, na moral, na religião. (...) Parece que Kant confundiu a positividade da
crítica com um humilde reconhecimento dos direito do criticado. Nunca se viu crítica
total mais conciliatória, nem crítico mais respeitoso. (...) a crítica de Kant
não tem outro objeto a não ser justificar, ela começa por acreditar no que ela
critica. (...) Nietzsche, nesse domínio tanto quanto nos outros, pensa ter
encontrado no que chama seu ‘perspectivismo’ o único princípio possível de uma
crítica total. Não há fato nem fenômeno moral, mas sim uma interpretação moral
dos fenômenos (VP, II, 550). Não há ilusões do conhecimento, mas o próprio
conhecimento é uma ilusão: o conhecimento é um erro, pior ainda, uma
falsificação. (...) Kant concluiu que a crítica deveria ser uma crítica da
razão pela própria razão. Não é essa a contradição Kantiana? Fazer da razão ao
mesmo tempo o tribunal e o acusado, constituí-la como juiz e parte, julgadora e
julgada. (...) Quem se mantém atrás da razão, dentro da própria razão? (...)
Com o nome de razão prática ‘Kant inventou uma razão expressamente para os
casos em que não se tem necessidade de preocupar-se com a razão, isto é, quando
é a necessidade do coração, a moral, o dever que falam (VP, I).’ (...) No
irracionalismo não se trata de algo que não seja pensamento, que não seja
pensar. O que é contraposto à razão é o próprio pensamento; o que é contraposto
ao ser racional é o próprio pensador. (...) O legislador de Kant é um juiz de
tribunal, um juiz de paz que fiscaliza ao mesmo tempo a distribuição dos
domínios e a repartição dos valores estabelecidos. (...) Na crítica não se
trata de justificar, mas sim de sentir de outro modo: uma nova sensibilidade.” Por
enquanto é Nietzsche, daqui a pouco pode ser outro...
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