terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Causo verídico do Zico do Bico.




Causo do "Zico do Bico".

Meu tio Zico

          Em outra ocasião recebemos uma visita de um casal de amigos de Bom Despacho. Esse meu amigo gosta muito de brincadeiras e pegadinhas. Ficar perto dele significa sempre estar de bom humor. Estávamos na varanda da casa: eu, ele e o Zico. Diferentemente do "Vado" e sua facilidade com a matemática, o Zico era bem o contrário. Eu costumava brincar muito com ele tendo como tema a matemática ou mais precisamente, a aritmética. Algumas pessoas chegavam a achar que aquilo não era muito aceitável, como se fosse uma ofensa a ele. Mas eu tinha certeza que o Zico não dava a mínima para aquilo tudo, e que ele levava sempre “numa boa” aquelas brincadeiras. 


Então resolvi brincar com ele mais uma vez e disse ao meu amigo: você quer ver como o Zico é craque na matemática? Ele se voltou para o Zico e perguntou: 


é mesmo Zico?


 O Zico somente olhou e ficou com uma expressão de estar pensando o que iria responder. Então eu disse: é ele é craque mesmo...  Quer ver? Então vamos ver Sô Zico se ocê é bom mesmo:


Quanto é um + um? 


Na sua forma característica demorou um pouco e repetiu a pergunta: 


um + um?


É Sô Zico um + um. 


Demorou bastante desta vez, mas respondeu:


um + um é treis


O meu amigo achando graça disso:


uai Sô Zico, Cê passo perto


Mais algum tempo e: 


Passei perto? 


É passou perto. O Zico pensou, pensou e respondeu como Arquimedes com sua Eureka


ah! então é QUATRO.


Tem como não admirar toda esta simplicidade, ingenuidade e paz de espírito? 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017


Homeopatia Cultural

"Meu tio Zico do Bico"

Frequentar uma universidade e uma faculdade tem uma diferença fundamental: o ambiente da universidade exala cultura para todos os lados, enquanto que na faculdade, com raras exceções, o ambiente é a sala de aula. Pensando em tentar amenizar tal deficiência eu incluía nos trabalhos dos meus aprendentes a HOMEOPATIA CULTURAL, OU SEJA, CULTURA EM PEQUENAS DOSES. Infelizmente, o trabalho se restringia a abordar algumas citações que eu considerava capazes de, em sala de aula, trazer alguma contribuição neste sentido. Falas de autores renomados, considerados sábios, filósofos, cientistas. Alguns exemplos: "Tudo é Um" Heráclito" esta foi sem dúvida a que fez mais sucesso. “Mantenha a fidelidade e a sinceridade como princípios básicos” (Confúcio); “Aja como se o que você faz fizesse diferença” (William James); “Quando alguém me atira um pêssego, devolvo uma ameixa.” (Mozi); “A vida irrefletida não vale a pena ser vivida.” (Sócrates); “Feliz aquele que superou o seu ego.” (Sidarta Gautama ou Buda). "Como o Homem tem necessidade de ILUSÕES para viver." Interessante como quando você tem algo importante e profundo para dizer você não precisa nem registrar em linguagem escrita. Exemplos? Sócrates, Buda e Jesus Cristo não precisaram registrar nenhuma palavra escrita para mudar o mundo de forma profunda e definitiva.  

Afinal por que uma pessoa cria um Blog? A lista de motivos pode ser interminável. Mas alguns são mais ou menos comuns. Egocentrismo com certeza é um deles. Temos todos que pedir desculpas para Sidarta não é mesmo? Somos todos egocêntricos. Felizmente em graus diferenciados. Tento seguir seu conselho, mas é muito difícil. Temos que andar na corda bamba entre controlar seu egocentrismo e certo grau de niilismo (Nietzsche). Caso eu anule demais o meu chamado “eu” posso incorrer na perda de vontade de viver. Aí a coisa se complica não é mesmo? Claro que esse nunca foi o objetivo de Sidarta, mas para nós ocidentais tal risco não deixa de estar por aí a nos espreitar. O “iluminado” ou Sidarta ou Buda tinha como questão principal o objetivo da vida, o que o levou a propor uma solução para o sofrimento humano, que considerou universal: o caminho do meio. As frustrações de desejos não realizados como causa dos sofrimentos desaparecem se deixamos de desejar. Bom, mas assim acaba a vida, pois esta não passa de uma sequência de desejos que vamos perseguindo durante todo tempo que respiramos. O próximo passo é entender que o nosso "eu" é a fonte de origem de todos os nossos desejos. Para Sidarta o eu não passa de uma ilusão que gera sofrimento na medida em que não reconhecemos que somos transitórios e sem substância e, principalmente que todo eu não passa de uma pequena parte do não-eu. Não se trata de parar de viver, mas viver sem esse apego a algo que certamente não durará muito. No fim há na verdade uma valorização de uma vida que deixa de ser escrava de uma ideia sem fundamento e substância: o nosso eu de cada dia. Podemos então pensar que podemos ter um blog e não utilizá-lo apenas para satisfazer os desejos de nosso ego. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O Peladão

O Peladão

Por falar em farmácia... Pouco tempo depois do tombo do cavalo ou talvez antes – não me lembro bem, minha Mãe chamou um taxi para levar meu irmão Jarbas Melgaço – o Jarbinhas, que estava com febre, até ao Farmacêutico da Farmácia Fiúza, num dia bem chuvoso.
Quando o taxi estava para sair fiquei com vontade de ir também e comecei a falar para minha Mãe, de forma insistente e puxando a barra do seu vestido. Ela disse para que eu ficasse com minha irmã Jaciára Melgaço – a Iara, mas de tanto insistir minha Mãe acabou concordando. Eu estava somente com uma camisetinha que ia até o meio de minha barriguinha – de bagre, mas não pensei duas vezes e fui entrando no banco de trás do carro. O taxi estacionou na porta da farmácia e minha Mãe me perguntou se eu não ia descer.
Não, não vou ficar aqui mesmo...
A chuva apesar de mais fraca continuava. O motorista e eu calados por alguns momentos. Eu não parava de olhar para dentro da Farmácia para acompanhar o que estava acontecendo. De repente o motorista se virou e disse:
"Ocê num vai descer?"
Não, não...  Eu não posso descer, pois se não vou sujar de barro o carro limpinho do Senhor.
O motorista esboçou um riso nos lábios, balançou a cabeça para lá e para cá virando para frente de novo. 

O tombo (Infância)

O Tombo

(Tatá)

Meu Pai, Jadir Melgaço “o Capitão” tinha uma barbearia com porta para a rua Dr. José Argemiro de Moura, na antiga casa de esquina da Praça Abaeté, que minha mãe, Maria Albanita Melgaço “a Titita”, herdou de minha Avó materna, Maria da Conceição Silva.  Nessa época meu Pai estava exercendo outra atividade que não me lembro qual, provavelmente como motorista da linha Dores – Abaeté, com a Jardineira do Bizinho e, por isso, o barbeiro naquele dia era meu tio materno, José Milton da Silva “o Tatá”.
Numa manhã ensolarada chegou um freguês que deixou seu cavalo estacionado bem próximo à porta da barbearia. O Tatá começou o serviço e eu, ainda bem pequeno, matava minha curiosidade observando tudo que podia no animal. O Tatá percebeu e resolveu me colocar montado no cavalo, que a princípio eu aprovei de pronto. De pronto também foi o tombo e o choro.
Encostado do lado de fora da porta com o olhar comprido para meu Tio, ainda soluçando, Sussurrei baixinho, o que provocou risos nos dois espectadores:
_ Tatááá... Ocê agora tem de “ir lá na” farmácia comprar os remédios – viu !!!???