sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Giacomo Leopardi: o belo no contexto do pessimismo, da dor e da melancolia. Da dor pessoal para uma Filosofia da dor.


Giacomo Leopardi nasceu em Recanati na Itália no dia 29 de junho de 1789 e faleceu em Nápolis a 14 de junho de 1837. É um dos maiores poetas da lírica italiana. O poeta dá uma solução pessimista e melancólica para a crise dos valores decorrente do fim do Iluminismo e da Revolução Francesa.

Poemas:


O infinito

 L' Infinito

Imitação



A si mesmo

A Se Stesso

 À Lua

Frases:

“Os melhores momentos do amor são aqueles de uma serena e doce melancolia, em que choras sem saber porque, e quase aceitas tranquilamente uma desventura que não conheces.”

“Não há nada que demonstre tão bem a grandeza e a potência do intelecto humano, nem a superioridade e a nobreza do homem, como o fato de ele poder conhecer, compreender por completo e sentir fortemente a sua exiguidade.”

“Não existe maior indício de ser pouco filósofo e pouco sábio do que desejar uma vida inteira de sabedoria e filosofia.”

“É curioso observar que quase todos os homens que valem muito têm maneiras simples, e que quase sempre as maneiras simples são vistas como indício de pouco valor.”

“A alma tende sempre a julgar os outros pelo que pensa de sim mesma.”

CRÉDITO: Tradução de Mariajosé de Carvalho.


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Homenagem na forma de agradecimento ao maior (na minha opinião) escritor de contos fantásticos: Jorge Luis Borges.


Jorge Luis Borges nasceu em 24 de agosto de 1899 em Buenos Aires e faleceu na Suíça (Genebra) em 14 de julho de 1986. Foi um escritor precoce. Aos seis anos de idade disse ao pai que queria ser escritor e aos sete começou a escrever.
"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção". (Borges)

Este é o meu conto fantástico preferido porque me ajudou muito a tornar-me o que sou hoje.  Em cada palavra e em cada frase sempre me deparo com uma surpresa o inusitado, mas que provoca e instiga. Desde as cores (cinza, amarelada, branca que velhos olhos não enxergam etc.) aludidas em diversas passagens até uma geografia sem preocupação com um onde cartograficamente fixo. Uma integração desconcertante do futuro com o passado. Uma clepsidra (relógio de água) sobre a mesa, retorno ao latim, Hitler como filantropo, fatos como coisas sem nenhuma importância, a falta de função para o dinheiro, o fim das cidades, o desuso dos governos, e por aí a fora. Mas o que mais me marcou foi a solução para a questão da solidão. Esta passou a ser uma coisa extremamente positiva em minha vida. Aprendi a estar comigo mesmo e aproveitar cada instante sendo eu mesmo, aceitando a ideia de que cada um deve produzir sua própria obra, sua própria arte, sua própria ciência sem a preocupação com nenhuma crítica, a não ser a sua própria.









quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Experiência poética VI: Não te quero mais!



Não te quero mais!
Jairo Melgaço.

Não te quero mais!
Toda seiva secou,
A tenra folha murchou,
Em pó puro tudo virou,
Pueril poeira vegetal,
Que ao vento pousou
Na terra que não mais acolhe,
Que não mais pulsa,
Que não mais vida tem,
Que inerte,
Que estéril
Não mais deixará de assim ser,
Sempre desta forma,
Para nunca mais ressurgir
Da completa morte
Nunca mais florescer,
Pois, do nada,
Nada pode ser,
Nada pode nascer.

Não te quero mais!
O meu olhar já não te vê,
O meu coração não mais te sente,
A proximidade ficou distante,
A cumplicidade agora é o disfarce escondido
Do enganar que já não mais engana.
A realidade aflorou nua e crua,
O mundo se mostrou na sua crueldade irreversível,
O teu perfume não mais me embriaga,
No fundo do teu olhar não enxergo mais tua alma,
Não enxergo mais nenhum desejo me guiando
Em tua direção.
O que sinto é total vazio,
Sem contornos,
Sem conteúdo,
Somente uma vontade de perto não estar,
Para melhor e fundo respirar
A brisa leve da liberdade,
De ir onde queira o meu querer
Com quem me querendo eu quiser,
Com os motivos mais fúteis,
Mais fundamentais,
Diversos,
Sem nenhuma importância,
Mesmo assim vitais,
Sem objetivo claro algum,
Na direção certa do certo da minha vida,
Da qual parte já não és.
Partir simplesmente,
Ir indo
Onde a estrada,
Onde a trilha me leva
Sem você,
Que não quero mais,
Nunca mais!

Não te quero mais!
A decepção,
Da errada escolha,
Do falso amor
Do verdadeiro desamor,
Sem nenhum rancor,
Do desencontro de visualizados futuros
Incompatíveis,
Incongruentes paralelos infinitos
Em direções opostas,
Que nunca se encontram,
Que nunca se integram,
Que nunca se complementam.
Apenas duas diversas sentenças
Em duas vontades estranhas,
Olhando em direções contrárias,
Buscando o diferente,
O que não se compraz,
Com prazer nenhum,
Inexistente harmonia
Do sossego algum,
Da paz nenhuma,
Sem nenhum elo conjugal comum.
Por isto e mais outros tantos,
E talvez mais ainda,
Não te quero mais,
Nunca mais!

André Gide: De como é possível retirar muita coisa boa de um escritor considerado maldito (sem a preocupação aqui de saber se justa ou injustamente).

Por que alguns escritores são considerados malditos? Por suas opiniões contrárias a uma moral dominante? Pelos temas abordados? Lautréamont, Baudelaire, Jean Genet, William Blake, Poe, Sade, Proust, Antonin Artaud, Kafka, Emily Bronte¨, Michelet, Rimboud, Paul Verlaine, Alvares de Azevedo, Nelson Rodrigues, Sousândrade, João Antônio, Paulo Lemisnki, Alice Ruiz são alguns exemplos. A lista vai longe. Teriam eles somente coisas condenáveis? Que critérios pertinentes e quem teria o direito de julgá-los?



André Paul Guillaume Gide, Prêmio Nobel de Literatura de 1947, nasceu em Paris em 22 de novembro de 1869 e faleceu de congestão pulmonar, no dia 19 de fevereiro de 1951. No ano seguinte, a Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício, em Roma, inscreveu sua obra inteira no Index Lbrorum Prohibitorum.


“Que meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti.”
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“(...) passei três anos de viagem a esquecer (...) tudo que aprendera com a cabeça.”
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“Suprimir em si a ideia de mérito; eis uma grande prova para o espírito.”
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“A melancolia não é senão um fervor que decaiu.”
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“Todo ser é capaz de nudez; toda emoção, de plenitude.”
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 “Nossos atos prendem-se a nós como a luz ao fósforo. Consomem-nos, é certo, mas fazem nosso esplendor. E se nossa alma pode valer alguma coisa foi porque ardeu com mais ardor do que algumas outras.”
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“ASSUMIR O MAIS POSSÍVEL DE HUMANIDADE, eis a boa fórmula.”
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“O sábio é quem com tudo se espanta.”
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“Que o homem nasceu para a felicidade, por certo toda a natureza o ensina. É o esforço para a volúpia que faz germinar a planta, enche de mel a colmeia, e o coração humano de bondade.”
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“Sonho com novas harmonias. Uma arte das palavras mais sutil e mais franca; sem retórica; e que não procure provar coisa alguma.”
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“Ah, quem libertará meu espírito das pesadas cadeias da lógica? Minha mais sincera emoção, ao exprimi-la, logo se falseia.”
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“A vida é talvez mais bela do que os homens consentem que seja. A sabedoria não está na razão e sim no amor. (...) Ó libertação! Ó liberdade! Até onde meu desejo puder estender-se irei. Tu, que amo, vem comigo; eu te carregarei até lá para que possas ir mais longe ainda.”
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“Tudo que não sabes dar te possui.”
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“Senhor, Ah! dai-me a felicidade de não esperar a morte para morrer.”
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“Minha felicidade consiste em aumentar a dos outros. Preciso da felicidade de todos para ser feliz.”
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“Penso: logo sou. E igualmente: sofro, respiro, sinto: logo sou. Pois se não pode pensar sem ser, pode-se ser sem pensar.”
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“É para a volúpia que se esforça toda a natureza. (...) Ela dispõe a corola para os beijos dos raios de sol, convida para as núpcias tudo que vive, (...) e faz a borboleta escapar da prisão da crisálida. Guiado por ela, tudo aspira a um maior bem-estar, a mais consciência e progresso... Eis porque encontrei mais ensinamentos na volúpia do que nos livros; porque encontrei nos livros mais obscurecimento do que claridade.”
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“Não, não houve nem diminuição de desejos, nem saciedade, com a idade; mas, amiúde, sentindo em meus lábios ávidos o esgotamento demasiado rápido do prazer, a posse parecia-me de menor valor que a procura e dia a dia mais ia preferindo a sede a matar a sede, a promessa de volúpia à própria, a ampliação do amor à sua satisfação.”
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“Oh, tudo o que não fizemos e, no entanto teríamos podido fazer... pensarão eles, no momento de deixarem a vida. (...) a hora que passa, passa definitivamente.”
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 “O medo do ridículo arranca de nós as mais tristes covardias. (...) – pois se o futuro consentisse em ser unicamente a repetição do passado, estaria nisso a consideração mais capaz de me arrancar toda alegria de viver.”
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“Quero mal a tudo o que diminui o homem; a tudo o que tende a torná-lo menos sábio, menos confiante e menos vivo.”
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“Só me comprazo com o que respira e pode viver. (...) Quero saber o que há de jactância em tua virtude, de interesse em teu patriotismo, de apetite carnal e de egoísmo em teu amor.”
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“Camarada, não aceites a vida tal qual a propõem os homens. Não cesses de te persuadir que ela poderia ser mais bela, (...) Quando começares a compreender que o responsável por todos os males da vida não é Deus, que os responsáveis são os homens, não te conformarás mais com esses males.”
...
“Nathanael, agora, joga fora meu livro. Emancipa-te dele. Abandona-me. Deixa-me, (...) Estou farto de fingir educar alguém.(...) Educar! – E a quem educaria, senão a mim mesmo? Só te apegues em ti ao que sintas que não se encontra alhures senão em ti, e cria em ti, impaciente e pacientemente, ah! o mais insubstituível dos seres.”