O meu tio materno, o Zico
do Bico, era mesmo uma pessoa diferente. Em várias ocasiões de sua vida
aconteceram situações engraçadas. Ele era muito religioso. Sempre participava
dos eventos da igreja e sempre ficava num lugar privilegiado. Toda vez que
tinha palanque em alguma festa religiosa lá estava o Zico, do lado do padre, do
Bispo e assim por diante. Ia à igreja com minha mãe ou sozinho, mas sempre ia.
Uma vez minha mãe entrou na igreja um pouco antes do início da celebração da
missa e, procurando o seu lugar costumeiro para sentar-se, viu que o Zico lá
estava. Andou naquela direção, e quando chegou perto não teve dúvidas, deu meio volta e foi para outro banco fora do alcance do olhar do Zico. É que quando
ela olhou para os pés do Zico ajoelhado viu um destroncamento total nos sapatos
que, para acabar de inteirar tinham os bicos finos. O Zico tinha calçado os pés
trocados e ao ajoelhar-se os bicos que deveriam estar virados para dentro
estavam para fora, numa situação que quem olhava não aguentava e, mesmo dentro
da igreja abria um sorrisinho meio escondido atrás da mão colocada
estrategicamente na frente dos lábios. No entanto para o Zico estava tudo muito
bem e em ordem e, talvez por isso não vejo nenhuma falta de consideração para com ele ao divulgar tal fato. Ele nunca se importou que divulgássemos suas travessuras. Somente depois que terminou a missa e de diversas outras
risadinhas é que minha mãe lhe chamou a atenção, sendo que o problema somente foi
resolvido quando ele voltou para casa. Passados alguns anos o Zico abandonou
por completo os sapatos ou qualquer outro tipo de calçado e passou a andar, por
toda a cidade, descalço mesmo.
Em outra ocasião, o Zico ainda bem jovem
entrou certa manhã com minha mãe na igreja. Minha mãe e ele rezando ajoelhados.
Minha mãe rezava com os olhos cerrados e com o rosto apoiado nas mãos postas.
Ficou assim por um bom tempo e imaginando que o Zico estava do seu lado. No
entanto, quando ela foi se sentar para continuar a rezar notou que o Zico não
estava do seu lado. Olhou para todo lado e nada. Um silêncio mortal. De
repente, o sino que ficava no ato da torre da igreja começou a badalar. Douuuuuuuuummmmm,
Douuuuuuuuummmmm, e mais Douuuuuuuuummmmm. Dava para ouvir na cidade inteira e
todo mundo, provavelmente se perguntava: que batida era aquela, não era para
defunto, nem para procissão, não dava para decifrá-la. Minha mãe também ficou
sem saber o que estava acontecendo e o sino fazendo Douuuuuuuuummmmm e Douuuuuuuuummmmm.
De repente aparece o padre e um sacristão correndo em direção da escada em
caracol que leva ao topo da torre. O padre então pede ao sacristão para ir até lá
em cima para ver o que era aquilo, pois ele também não estava entendendo nada.
Minha mãe continuou onde estava. Passados alguns minutos o sino parou de
badalar. Minha mãe ouvindo uma conversa parecida
com a do Zico na direção de onde ficara aguardando o padre, olhou para trás e
viu o sacristão e o Zico acabando de descer as escadas. O sacristão então disse
ao padre que quando chegou até o sino viu o Zico dependurado na corda que o
fazia badalar e, ainda por cima queria continuar por mais algum tempo, mas que
conseguira convencê-lo de continuar outro dia. O padre, que conhecia o Zico,
achou foi graça e perguntou por que resolvera badalar o sino, ao que o Zico
simplesmente respondia: “hum? Hem? Uai! E não era porque tinha ficado
temporariamente surdo, e sim porque estas sempre foram suas respostas para
qualquer pergunta que lhe faziam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário