sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Prosopopéia XV



“A mulher é o alimento corporal o mais elevado.” (Novalis).

Pensamento ruim este! Por que imaginar situações que nos fazem sofrer? Amor a distância (AAD) perturba, principalmente quando impera (in) certo ciúme.  “Perdoa-me por me traíres.” Declaração de culpa: minha culpa, tão somente minha culpa! Por que a posse é tão importante? Que tipo de prazer é esse? Por que é difícil dividir? Na vida o dividir-nos entre os nossos, nem sempre é prazeroso e satisfatório para ambas as partes. Viajar, passear é melhor que trabalhar? Gostar mais de trabalho que de passeio é uma inversão de valores? Como saber? Difícil dizer o que vale o que os outros sentem. Por exemplo: “o que é belo é o homem dominando os traços femininos que estão nele, a mulher os traços masculinos” (Crítias). Há quem pense e aja justamente na contramão dessa máxima, e que cada um saiba de si, e de ninguém mais nessa questão. Mais condizente dizer algo que a nós se refere. Mesmo neste caso não é tarefa fácil. Expressar sentimentos e situações de nossas vidas de forma a realizar essa avaliação com alguma segurança de (in) certa certeza é proposta difícil de ser colocada em prática. “Falar não é ver. ‘O que de fato alguém viu, como é que pode exprimi-lo pela linguagem? ’” (Górgias). E de forma ainda mais contundente: “se fosse possível por meio das palavras dar a verdade dos fatos – pura e evidente –aos ouvidos, o juízo seria sem dificuldades...” (Górgias). Ou tudo isso não passa de uma grande bobagem, já que hoje em toda parte estão aí as redes sociais? Que linguagem é essa das redes sociais que mescla palavra, imagem, movimento, circulação e comunicação? Consegue negar essa máxima de Górgias? Mudou o status do ver? As redes sociais seriam uma reencarnação da Psicagogia, ou seja, “da arte de levar a alma, pela persuasão, até onde se quiser levar.” (Górgias) Banalizado está o instante vivido? Será isso uma forma de indecência?
Como funciona a indecência? Relaciona-se com o quê? Trair a pessoa amada é indecência? Ou não é possível amar e trair ao mesmo tempo? No amor não cabe o desamor? Esse não tem a menor chance de existir? Para existir desamor é preciso que exista antes o amor, já que o des esvazia algo que já existe; e na medida em que existindo amor não é possível o seu contrário, a única conclusão a que se pode chegar é que desamor é algo que só existiu em ideia, nunca realmente. O sexo que busca o prazer é indecência? A nudez é indecência? “Toda nudez será castigada.”!? Será por aí, ou responder sim para essas perguntas, ou mesmo tocar no assunto, é que é indecência?  Podemos pensar o mesmo em relação ao Ser e o não-Ser? “Se o ser é, o não ser é o não ser” - “De modo que as coisas não mais são do que não são.” (Górgias) Por que as formas básicas de se dar valor às coisas sempre geram divergências de opinião? Por que afinal uns gostam dos olhos e outros da remela e, talvez, de forma mais abrangente: que valores a maioria (ou valor é algo exclusivamente pessoal e intransferível?) considera indecência? Dá para concordar com ela? Precisamos da indecência? Para quê? Para que o nomos possa se sobrepor ao natural (Physis)? A lei é mais forte que a natureza e pode domá-la (Crítias), ou será o contrário (Hípias)? A indecência impede o prazer, ou o prazer deve suprimir a indecência? A lei não deveria justificar o prazer já que “a alma é essencialmente poder de sentir” (Crítias)?
Por que existe o medo da perda? Mesmo que as situações vividas indiquem paz, harmonia e prazer na relação, tal dúvida insiste. Por quê? Na balança dois valores:
a) viver a relação sem considerar a dúvida “dominando a sensação pelo pensamento” (Crítias)
b) viver os desdobramentos da dúvida sentindo a sensação sem considerar o pensamento.
Possível viver os dois alternadamente? Bem provável, mas vale a pena? Quem duvida desconfia! Desconfiar leva a vigília. Não acreditar em tudo que ouve da primeira vez procurando contradições no dito; vigiar onde o olhar se fixa, avaliando as reações que o fixado gera. Os olhos fixam-se no outro, gerando reações suspeitas de traição. Como seria aqui o tempo como momento oportuno do Helenismo? “Sentir o tempo como ocasiões favoráveis para a ação que vem a propósito, e não senti-lo como instantes iguais a qualquer outro”. Quais as condições favoráveis de agora? Qual a opção mais prazerosa? Vamos nessa... de qualquer forma ou não? Avaliando se a escolha é ou não justa ou nem pensar e nem se preocupar com isso? Justa com quem e em relação ao quê, afinal?

Então, para que imaginar que estão acontecendo situações que nos fazem sofrer? Ou será que elas são na verdade uma forma de prazer? Pode existir prazer na dor? Caso seja uma dor psicológica, passageira e restrita à imaginação, isso somado com a certeza de que o desprazer imaginado jamais se realizará, pode isso ser um prazer? Imaginar situações na relação que uma vez acontecendo nos magoe, e sabendo que não vão acontecer pode tornar os futuros encontros dos casais mais calientes? Masoquismo estético (Kierkegaard)?

domingo, 31 de agosto de 2014

Exemplo do meu Trabalho Acadêmico I.


Projeto de Extensão: O Curso de Farmácia da FASF, a saúde no Município de Luz, a partir do enfoque da Campanha da Fraternidade de 2012, e a Escola Estadual “D. Lica Raposo”.                                                                                                                                                                                                     Jairo Melgaço.



Luz, março de 2012

Idéia Geral: Articular a formação do futuro farmacêutico com os termos da Campanha da Fraternidade de 2012 [A Igreja propõe como tema da Campanha deste ano: “A fraterni­dade e a Saúde Pública”, e com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)] com a realidade da saúde no município de Luz, e a Escola Estadual “D. Lica Raposo”.

Objetivo Geral: Avaliar e Refletir sobre a realidade da saúde em comunidades luzenses mais carentes, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade de 2012, em vista de complementar a formação dos futuros farmacêuticos, e ao mesmo tempo estender para essas comunidades conhecimentos sobre cuidados com a saúde, higiene corporal etc. e, além disso, incluir nesse contexto os alunos da Escola “Lica Raposo”.

Metodologia: Participarão do projeto as turmas de Primeiro, Terceiro, Quarto e Quinto Períodos do Curso de Farmácia da FASF.  

Obs. Os encontros e os trabalhos de campo e as leituras que serão realizadas com as turmas serão de acordo com a disponibilidade de tempo e datas pelos próprios alunos, sendo que as atividades serão distribuídas de acordo com essas disponibilidades.

Fase 1- Exploratória:
Num primeiro momento os alunos deverão analisar o Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2012, principalmente a Primeira e Terceira Parte que se referem aos itens que dizem respeito mais diretamente com a ciência saúde e sociedade, tais como a saúde e doença, saúde no Brasil, SUS, determinantes sociais da saúde, etc.
Em seguida deverão visitar os PSFs da área urbana de Luz para identificar as áreas onde se concentram as comunidades mais carentes de serviços de saúde bem como o acesso e qualidade dos serviços prestados nessa área.
Finalmente conhecer as turmas das Escolas Estaduais “Lica Raposo” para identificar problemas de saúde.

Fase 2- Analítica: Nessa fase as informações e dados serão organizados e tabulados para que seja possível uma caracterização das realidades pesquisadas.

Fase 3- Propositiva: A partir da realidade caracterizada na fase dois deverão ser identificados problemas, situações adversas e carências diversas para que seja possível estabelecer propostas de contribuição para tentar minimizá-las. 

Fase 4 - Intervenção na realidade: Essa fase ocorrerá desde que não haja nenhum impedimento para sua realização, tais como falta de verbas, de tempo disponível, de extrapolação e invasões de esferas de atuação de órgãos públicos, etc.
A princípio pretende-se realizar intervenções que:
a)      Possam ampliar o conhecimento sobre saúde, numa abordagem ampla de saúde, das comunidades carentes identificadas e, ao mesmo tempo, esclarecer sobre os direitos ao acesso a serviços de saúde garantidos por lei;
b)      Contribuam para a formação do futuro farmacêutico;
c)      Auxiliem nos estudos sobre a saúde na Educação Básica e na formação do futuro farmacêutico.

Fase 5 – Recursos: Serão utilizados os recursos materiais e humanos disponíveis em todos os momentos da execução do projeto. Em função das propostas apresentadas e do volume de recursos necessários para que possam ser colocadas em prática, todas as fontes de recursos financeiros serão utilizadas, tais como a FASF, a Prefeitura Municipal através da Secretaria de Saúde, da Secretaria de Educação e, ao mesmo tempo, órgãos ligados ao Governo do Estado de Minas e à União, além das Igrejas das diversas religiões, eventualmente poderão ser contatados.

Fase 6-  Avaliativa. Durante a realização do projeto deverão ser incluídos momentos e instrumentos de avaliação. Ao final da realização do Projeto deverá ser feita uma avaliação geral dos seus resultados para que possa ser elaborado um relatório final (ao longo do processo serão reunidos dados, informações, fotografias e etc. para que seja montado um Portfólio) que deverá ser composto da contribuição de todos os alunos dos períodos do curso de Farmácia envolvidos no projeto.
  
Referências Bibliográficas:


Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Campanha da Fraternidade 2012: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2011.

GUYTON. Arthur C., HALL, John E. Fundamentos de Guyton – Tratado de Fisiologia Médica. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A. 2002.

JULIATTO, Clemente Ivo e OLIVEIRA, Paulo Eduardo. (Coords.) Um jeito próprio de cuidar: reflexões e propostas para a área da saúde. Curitiba: Champagnat, 2005. (Coleção Institucional, 1)

REPETTO, Enrico (Org.). O guia da medicina: da formação acadêmica à prática profissional. Porto Alegre: Artmed, 1998.



Informações úteis I.


domingo, 22 de junho de 2014

Composição Musical cifrada II: Pluma ao vento.



PLUMA AO VENTO
Letra e música de Jairo Melgaço
Tom: Lá menor (Am)
Ritmo: Samba 
Introdução:  Am   A7  Dm   F  E7   Am    F  E7   Am

Am                                 E7                                                     Am   
No sopro do ar, Pluma ao Vento, Pluma, que não me sai do pensamento.
                                 E7                                        Am
Nem  pense /    em solidão, não  queira qualquer paixão.
A7                   Dm                       F     E7        Am   F  E7    Am
Pelo sertão, talvez pro mar, quem sabe até, meu coração. (meu coração)
E7                   Am        E7                        Am
Pluma, Pluma ao Vento!  Pro  mar, pro meu sertão.
E7                   A m      E7                                    Am      F    E7    Am
Pluma, Pluma ao Vento, Pluma, quem sabe minha emoção. Minha emoção
E7                       Am
Pluma  /  do meu sertão!


Am                                     E7                                Am
Vem minha Pluma, Pluma ao Vento, com todo seu sentimento.
                                   E7                                   Am        
Traga de longe minha paixão, vento bandido que solidão.
          A7                   Dm               F  E7              Am        
Sem minha Pluma estou perdido, você distante, que sofrimento.  
F        E7         Am
Que       sofrimento
E7                      Am        E7                         Am
Pluma, Pluma ao Vento!    Pro mar, pro meu sertão.
E7                      Am    E7                                   Am     F           E7   Am           
Pluma, Pluma ao vento, Pluma, quem sabe meu coração. Meu coração, âo.
E7                      Am
Pluma  /  do meu sertão!



Composição Musical cifrada I: Só quero te querer!



Titulo: SÓ QUERO TE QUERER!

Letra e Música: Jairo Melgaço.

Tom: Sol maior (G)
Ritmo: samba canção
Introdução: G  G7  C  D7  G  F#m  Em  Am  D7  G

G                                               D7          
Tanto tempo que você insiste em dizer,
                       C             D7            G       
Que o que sente por mim, não pode ser amor.
                                                         D7
Tempo tanto tempo, sem buscar o meu carinho,
                                C              D7              G
Sem sentir uma saudade sem abraçar o meu abraço.
                                                                D7
Tempo tanto tempo, sem caminhar o meu caminho,
                                C               D7                 G
Sem meus lábios adoçar, sem do meu amor provar.


G7           C               D7    Am       G
Será que você não conseguiu entender,
             G7            C         D7              G
Que não adianta insistir, você sabe que não,
          G7             C           D7                G F#m
Você tem que acreditar, que distante de mim,
Em             Am                 D7               G
Não tem felicidade, e a saudade não passa.


REFRÃO:
          G7               C         D7    G  F#m
Você tem que me dizer: Eu amo você!
Em           Am           D7        G 
Sem o seu amor, não posso viver.
       G7        C            D7          G  F#m
Eu amo porque, só penso em você,

Em           Am           D7           G 
Só quero querer num abraço você. (3X)

Experiência poética VIII: Só quero te querer!



Só quero te querer!
Jairo Melgaço


Tanto tempo que você insiste em dizer,

Que o que sente por mim, não pode ser amor.

Tempo tanto tempo, sem buscar o meu carinho,

Sem sentir uma saudade, sem abraçar o meu abraço.

Tempo tanto tempo, sem caminhar o meu caminho,

Sem meus lábios adoçar, sem do meu amor provar.


Será que você não conseguiu entender,
            
Que não adianta insistir, você sabe que não.
         
Você tem que acreditar, que distante de mim,

Não tem felicidade e a saudade não passa.


Você tem que me dizer: Eu amo você!
 
Sem o seu amor, não posso viver.

Eu amo porque, só penso em você,

Só quero querer... Num abraço você.

Só quero querer... Num abraço você.


Só quero querer... Num abraço você.

sábado, 17 de maio de 2014

Prosopopeia XIV: ainda Nietzsche...

Prosopopeia XIV: Ainda Nietzsche...



Já coloquei óculos escuros em Marx e pensei que visão teria ele daquele hoje (início da década de 80). Agora não colocaria óculos escuros em Nietzsche, mas óculos de grau bem forte, para confirmar que o que ele está enxergando é mesmo o que se apresenta para ser inferido através do olhar. Nietzsche é ouvido e compreendido diferentemente da época em que estava vivo e disso reclamava (Ecce Homo). Dedicou boa parte de sua vida a um empreendimento que lhe exigiu coragem: valorizar a vida de forma incontestável e à custa de polemizar com os valores estabelecidos pela maioria em sociedade. Ser contra tudo que atrapalhe o livre viver, seja tal coisa o que for: religião, moral, filosofia, cultura, educação, e até mesmo deus (deus e não Deus, ou seja, o deus que o homem criou para que fossem possíveis as religiões, o deus que fica de fora de nós, que existe para nos vigiar e punir. Que presta um desserviço à sua própria criação – cria-se uma criatura para viver e depois inibe ao máximo essa possibilidade. Que contradição é essa?) simplesmente dar o devido valor que à vida deve ser dado.  Envolvendo o que de mais central e profundo pode o ser humano. Isto traduzido em filologia, filosofia, psicologia, cultura, educação, religião, Deus, deus e deuses, comportamento moral, bem e mal, bom e mau, revalorização dos valores. Incompreendido naquilo que importa muitos inimigos surgiram denegrindo sua pessoa e obra. Porém, não adianta querer encobrir o sol com a peneira. Mais cedo ou mais tarde os raios de sol chegam ao solo pronto para que possa ser germinada a semente do novo, do novo homem, da nova sociedade, dos novos valores, que sejam valores de verdade ou que não exista mais nenhum. Que seja extirpada da face desse pretensioso astro algumas de suas ervas daninhas. Que lhes sejam dadas uma dose mortal de Roundup ou Randap. Nietzsche, o randap de toda erva daninha que nega a vida, que nega o otimismo, contra todo pessimismo, contra todo deixar para viver depois, contra toda moral castradora e inibidora das possibilidades de vida, das vontades, do eu quero, por que não? Leio Nietzsche desde que me preparava para fazer vestibular em São Paulo. Lembro-me de que eu cheguei a achar que Nietzsche era um egocêntrico louco, ao ler Ecce Homo. No entanto, foi o primeiro filósofo que comecei a entender alguma coisa do que estava falando em sua obra. Acredito hoje que eu apenas pensei que estava entendendo algo. Na verdade eu pegava algumas de suas ideias e aplicava-as a estratégias didáticas. Por exemplo: a sua ideia “como o homem tem necessidade de ilusões para poder viver”, foi uma que utilizei muito. A questão girava entorno do significado da palavra ilusão. Não sei se seria a melhor tradução essa palavra para o que Nietzsche queria expressar, que na verdade era muito mais como o homem tem necessidade de falsificações, mentiras mesmo para manter a preservação da espécie. A escolha da palavra ilusão para substituir a palavra mentira é uma escolha muito bem feita, uma vez que produz várias ilusões na cabeça de quem lê e não tem iniciação suficiente para discernir tal fato. Mas o que importa é que, na medida em que fui lendo e relendo Nietzsche, pude ir percebendo que ele tratou das mesmas mensagens que tentava disseminar em diversos momentos neste seu trabalho de se fazer por entender. A incompreensão sobre suas ideias publicadas lhe fez tomar talvez essa atitude: escrever de novo a mesma coisa com palavras, frases, parágrafos diferentes, como se quisesse, didaticamente, oferecer uma tradução de suas próprias ideias. Ele sempre reclamou de que não tinha “amigos” para conversar. Ele conversava com ele mesmo ou criava interlocutores imaginários, como por exemplo, os espíritos livres. Não tinha outra saída. Em vários momentos de sua obra ele fala dessa inexistência de com quem dialogar, aqueles que pudessem discutir com ele suas ideias. Em Esse Homo ao falar do seu livro Para além do bem e do mal ele se refere ao seu trabalho de encontrar “individualidades transbordantes de energia” que pudessem ser fisgadas pelo seu anzol, como ele próprio diz: “a partir de então todas as minhas obras assemelham-se a anzóis (...).” e finaliza dizendo que se a isca não foi abocanhada que a culpa não era sua: “não havia peixe...”. Fico impressionado como em todo o momento na sua obra a gente se depara com ideias que logo se transformam em obras de futuros autores de renome mundial. Para aproveitar que estamos com Esse Homo aberto na abordagem de Para além do bem e do mal, quando afirma que esta sua obra é em essência uma crítica da modernidade e que indica “um tipo oposto, muito mais que moderno, um tipo nobre, afirmativo.” Vejo aí a origem de todas as implicações acadêmicas, teóricas etc. do rotulado pós-modernismo e coisas afins. Muitos outros exemplos podem ser dali retirado, é só seguir os diversos autores que tem e que tiveram em Nietzsche uma referência para a produção de suas próprias obras. Para citar alguns exemplos claros: Foucault, e a ideia de que o poder é algo como que omnipresente, ou seja, perpassa tudo numa visão de que todas as coisas da natureza tendem para um mesmo princípio ativo de busca por um aumento de sua própria potência, cada vez mais poder. Sem sombra de dúvida é uma ideia central em Nietzsche: a vontade de potência. Talvez fosse interessante começar por ela, não sei. Em que obra de Nietzsche aparece pela primeira vez essa ideia? Quantas vezes ela ocorre em sua obra? Como uma análise do formato dado em cada uma delas pode realizar essa tradução de Nietzsche por Nietzsche? Que outras ideias poderiam ser analisadas da mesma forma? Será possível determinar com segurança quantas ideias são centrais no seu Pensamento, na sua Obra? Vejamos alguns exemplos: seu primeiro problema foi a respeito do bem e do mal, ou seja, moral. Não sei se encontraremos problemas tratados por Nietzsche que não tenham alguma relação com moral. Outra questão é a da verdade, que diretamente remete às suas abordagens sobre o filósofo e à filosofia, e que não se separa logicamente da mentira, das ilusões aludidas acima. A vontade da verdade (na parte Os preconceitos dos Filósofos) qual a sua origem? Foi sua primeira pergunta para em seguida perguntar: qual o valor dessa vontade? O problema da validade do verdadeiro. Sócrates: a razão em detrimento do instinto. A arte e a música também sempre estiveram presentes em Nietzsche. Aqui cabe um Lulu Santos: “se é loucura então, melhor não ter razão”? Mas sua grande polêmica talvez seja a questão da morte de Deus. Porém isso me faz pensar algumas coisas. Afinal, qual o significado dessa ideia em Nietzsche? Gostaria de dar uma opinião dentro de mais essa prosopopeia. Como vou viver sem deus? Caramba... Mas, espera aí?! Que história ou estória é essa? Afinal deus morre? Parece que isso depende da religião considerada. Em algumas delas deus se é mesmo Deus com “D” maiúsculo tem como um de seus atributos a eternidade. Será que Nietzsche descobriu a morte de um deus ou de Deus? Em minha opinião, o deus que Nietzsche encontrou morto foi o deus-ideal, enquanto conceito, ideia sem o qual ficam difíceis certos momentos da vida. Para Nietzche “o mais elevado não pode proceder do mais baixo, nem pode vir pelo geral (...) tudo que é de primeira ordem deve ser causa sui (...) todos os conceitos superiores, o ser, o absoluto, o bem, a verdade, a perfeição, tudo isso não pode vir a ser (...) assim é a forma como chegam ao seu conceito de Deus.” Parece que a ideia, o conceito de deus nos remete a uma psicologia, na qual os momentos difíceis da vida ficam menos difíceis, com essa ideia de que em algum lugar e neste tempo existe algo que é mais do que eu sou, e que, portanto, pode me fazer bem, pode me ajudar a superar os obstáculos da minha vida. Assim, adquirimos uma força suplementar para superação desses obstáculos. Essa força é como se estivéssemos segurando a mão de Deus, ou que Deus estivesse segurando a nossa mão, e nos conduzindo para o melhor caminho. Não deixa de ser uma forma de terceirização da responsabilidade. Transfiro a responsabilidade para deus e fico mais tranquilo para continuar ou tentar/lutar para continuar caminhando. Qual o melhor caminho? A escolha implica uma vontade, que mostra os valores de quem escolhe. Viver de que forma? Não viver é no mínimo burrice, como é da mesma forma, deixar para viver depois. Quem disse que existirá depois na nossa condição humana marcada pela morte? Quando a respiração é interrompida não existe mais depois no caminho que vinha sendo traçado. A vida é interrompida, finalizada, como dizia o comediante: morreeeu. Aí já não é mais possível escolher. A vontade de ser, de viver, sentir, saborear isto ou aquilo não tem mais como se realizar. Isto nos remete ao fato de que já que tal situação certamente ocorrerá no meu depois, que valor vou dar para minha capacidade de escolha que ainda me resta? Que vontades eu tenho para saciar? Tenho um depois pelo menos por enquanto, então posso escolher segundo minhas vontades. De uma coisa estou certo: a escolha de viver com deus ou sem deus depende de como esse deus ajuda ou atrapalha na satisfação de minhas vontades: se existe um deus que tolhe minhas realizações na satisfação das vontades de minha vida é melhor que ele morra, que esteja morto e que não deveria nem ter nascido. Tenho ou não que pensar assim? Estou vivo então tenho diante de mim a alternativa de escolher viver dessa ou daquela forma. Se um deus se coloca entre mim e minhas realizações, o quero bem mortinho. Egoísmo? _Não, escolha de uma vontade de vida! Pecado? Muito menos. Que limites considerar na escolha da maneira de viver? Moralmente? Eticamente? Religiosamente? Fica a critério de cada um. O que importa nesta história toda é que para mim ainda faz sentido a ideia de Deus me ajudando a viver, por uma coisa muito simples: os sinais que Deus nos remete o tempo todo... Mas que importa tudo isso afinal? Tudo não passa de prosopopeia... ainda bem!!!
       


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O que Nietzsche deve a outros (II)

QUINTO HORÁCIO FLACO

Será senhor de si e viverá contente aquele a quem for lícito dizer cada dia: "Aproveitei a vida! Amanhã, pode o Pai dos deuses ocupar com uma negra nuvem ou com sol puro o céu; mas não tornará vão o que é passado nem mudará ou fará que não tenha ocorrido aquilo que nos trouxe uma vez a hora fugidia".


Nietzsche sobre Horácio: Até agora nenhum poeta me proporcionou um encanto artístico comparável ao que experimentei ao ler suas obras. (...) Esse mosaico de palavras em cada vocábulo, tanto por seu timbre especial como por seu lugar na frase e pela ideia que expressa, tem um valor substantivo; esse minimum na soma e o número dos signos e esse maximum na energia dos signos, tudo isso é romano e aristocrático por excelência. 

Quinto Horacio Flaco nasceu em Venúsia a 8 de dezembro de 65 a.C. — Roma faleceu a 27 de novembro de 8 a.C. Foi um poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. É conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma Antiga.

Trecho de uma de suas obras:

Gozar enquanto é tempo!

Póstumo, Póstumo! Os anos - ai de nós! - correm velozes e nem a piedade retardará as rugas, a velhice iminente e a indomável morte. Não o conseguirias, meu amigo, mesmo que imolasses trezentos touros, um cada dia, a fim de aplacar o insensível Plutão, que retém Tício e Gerião, gigante de três corpos, além do triste rio cuja travessia certamente há de ser feita por todos nós, que comemos os frutos da terra, quer sejamos reis, quer pobres camponeses. Em vão fugiremos à guerra sangrenta ou às ondas do rouco Adriático, que se quebram de encontro aos rochedos; em vão recearemos, durante o outono, o vento que faz mal: teremos de ir ver o negro Cócito, que vagueia com seu lânguido curso, e, a infame prole de Dânao e o filho de Éolo, Sísifo, condenado a um eterno trabalho. Terás de abandonar a terra, a casa e a esposa querida e nenhuma das árvores que plantas te há de seguir para além dos odiosos ciprestes; por breve tempo tu és seu dono. Um herdeiro mais esperto que tu beberás todo o Cécubo que guardas com cem chaves e banhará o chão com um vinho magnífico, melhor que o dos jantares dos pontífices...

  Créditos:




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O que Nietzsche deve a outros (I)

Cayo Salustio Crispo







------------------------------------------------------------------------_
Apesar de algumas considerações sobre seu gosto muito particular que não gosta de aprovar e prefere mais contradizer e negar; que não costuma aprovar em bloco e que poucos foram os autores que influíram em seu estilo e obra, Nietzsche reconhece algumas dessas influências: Salustio, Horácio, Fontenelle, Tucídides, Maquiavel, Jacob Burckhardt, Goethe, Schopenhauer.

------------------------------------------------------------------------

Salustio nasceu em 01 de outubro de 86 a. C e faleceu com 52 anos a 13 de maio de 34 a. C. Seu estilo conciso e uma análise penetrante influenciou Nietzsche que aprendeu latim de um só fôlego surpreendendo seu professor o Senhor Corssen: “Cerrado, severo, com muita substância de fundo, com uma fria malevolência para com a frase bela e os belos sentimentos, Salustio fez com nessas qualidades suas eu adivinhasse a mim mesmo.” (Crepúsculo dos Ídolos).


Trecho de sua obra mais importante: Conjuração de Catilina.


 Em tempos remotos os Reis (este foi o nome que se deu no mundo aos primeiros que mandaram) já exercitavam o ânimo, o corpo, segundo o capricho de cada um: ainda passavam os homens a vida sem ganância: todos estavam contentes com sua sorte. Mas depois que Ciro na Ásia, e na Grécia os Lacedemônios e Atenienses começaram a subjugar os povos e nações, a guerrear somente pelo capricho de poder mandar, e a medir sua glória pela grandeza de seu Império; então mostrou a experiência e os sucessos que o fundamental da guerra é o engenho, a estratégia. E para dizer a verdade se os Reis e Generais fizessem tanto uso dela no tempo de paz, como na guerra, com mais teor de igualdade iriam as coisas humanas, nem as veríamos tão mudadas e confusas: porque o mando facilmente se conserva pelas virtudes mesmas com que a princípio se alcançou. Porém logo que ocupa o lugar do trabalho a preguiça, e o capricho e soberba o da moderação e equidade, muda juntamente com os costumes a fortuna: e assim passa sempre o Império do mal e não merecedor aos melhores e mais dignos. A terra, os mares, e quanto encerra o mundo está sujeito à invenção humana; mas existem muitos que entregues à gula e ao sono passam sua vida, como peregrinado, sem ensino nem cultura; aos quais, trocada a ordem da natureza, o corpo serve somente para o deleite, a alma é apenas fardo e embaraço. Para mim não é menos considerável a vida destes que a morte, porque nem de uma nem de outra fica memória: e me parece que só vive e goza da vida o que ocupado honestamente procura conseguir fama por meio de alguma façanha ilustre ou virtude excelente. Mas como existem tantos caminhos, a Natureza guia cada um pelo seu.

Créditos: