“A mulher
é o alimento corporal o mais elevado.” (Novalis).
Pensamento ruim este! Por que imaginar
situações que nos fazem sofrer? Amor a distância (AAD) perturba, principalmente
quando impera (in) certo ciúme. “Perdoa-me por me traíres.” Declaração de
culpa: minha culpa, tão somente minha culpa! Por que a posse é tão importante?
Que tipo de prazer é esse? Por que é difícil dividir? Na vida o dividir-nos
entre os nossos, nem sempre é prazeroso e satisfatório para ambas as partes. Viajar,
passear é melhor que trabalhar? Gostar mais de trabalho que de passeio é uma
inversão de valores? Como saber? Difícil dizer o que vale o que os outros sentem. Por exemplo: “o que é belo é o
homem dominando os traços femininos que estão nele, a mulher os traços
masculinos” (Crítias). Há quem pense e aja justamente na contramão dessa máxima,
e que cada um saiba de si, e de ninguém mais nessa questão. Mais condizente
dizer algo que a nós se refere. Mesmo neste caso não é tarefa fácil. Expressar sentimentos
e situações de nossas vidas de forma a realizar essa avaliação com alguma
segurança de (in) certa certeza é
proposta difícil de ser colocada em prática. “Falar não é ver. ‘O que de fato
alguém viu, como é que pode exprimi-lo pela linguagem? ’” (Górgias). E de forma
ainda mais contundente: “se fosse possível por meio das palavras dar a verdade
dos fatos – pura e evidente –aos ouvidos, o juízo seria sem dificuldades...”
(Górgias). Ou tudo isso não passa de uma grande bobagem, já que hoje em toda parte
estão aí as redes sociais? Que linguagem é essa das redes sociais que mescla
palavra, imagem, movimento, circulação e comunicação? Consegue negar essa
máxima de Górgias? Mudou o status do ver? As redes sociais seriam uma
reencarnação da Psicagogia, ou seja, “da
arte de levar a alma, pela persuasão, até onde se quiser levar.” (Górgias) Banalizado
está o instante vivido? Será isso uma forma de indecência?
Como funciona a indecência? Relaciona-se com o quê? Trair
a pessoa amada é indecência? Ou não é possível amar e trair ao mesmo tempo? No
amor não cabe o desamor? Esse não tem a menor chance de existir? Para existir
desamor é preciso que exista antes o amor, já que o des esvazia algo que já existe; e na medida em que existindo amor
não é possível o seu contrário, a única conclusão a que se pode chegar é que
desamor é algo que só existiu em ideia, nunca realmente. O sexo que busca o
prazer é indecência? A nudez é indecência? “Toda nudez será castigada.”!? Será
por aí, ou responder sim para essas perguntas, ou mesmo tocar no assunto, é que
é indecência? Podemos pensar o mesmo em
relação ao Ser e o não-Ser? “Se o ser é, o não ser é o não ser” - “De modo que
as coisas não mais são do que não são.” (Górgias) Por que as formas básicas de
se dar valor às coisas sempre geram divergências de opinião? Por que afinal uns
gostam dos olhos e outros da remela e, talvez, de forma mais abrangente: que
valores a maioria (ou valor é algo exclusivamente pessoal e intransferível?) considera
indecência? Dá para concordar com ela? Precisamos da indecência? Para quê? Para
que o nomos possa se sobrepor ao
natural (Physis)? A lei é mais forte
que a natureza e pode domá-la (Crítias), ou será o contrário (Hípias)? A
indecência impede o prazer, ou o prazer deve suprimir a indecência? A lei não
deveria justificar o prazer já que “a alma é essencialmente poder de sentir”
(Crítias)?
Por
que existe o medo da perda? Mesmo que as situações vividas indiquem paz,
harmonia e prazer na relação, tal dúvida insiste. Por quê? Na balança dois
valores:
a)
viver a relação sem considerar a dúvida “dominando a sensação pelo pensamento”
(Crítias)
b) viver
os desdobramentos da dúvida sentindo a sensação sem considerar o pensamento.
Possível
viver os dois alternadamente? Bem provável, mas vale a pena? Quem duvida
desconfia! Desconfiar leva a vigília. Não acreditar em tudo que ouve da
primeira vez procurando contradições no dito; vigiar onde o olhar se fixa, avaliando
as reações que o fixado gera. Os olhos fixam-se no outro, gerando reações
suspeitas de traição. Como seria aqui o tempo como momento oportuno do Helenismo?
“Sentir o tempo como ocasiões favoráveis para a ação que vem a propósito, e não
senti-lo como instantes iguais a qualquer outro”. Quais as condições favoráveis
de agora? Qual a opção mais prazerosa? Vamos nessa... de qualquer forma ou não? Avaliando se a escolha é ou não
justa ou nem pensar e nem se preocupar com isso? Justa com quem e em relação ao
quê, afinal?
Então,
para que imaginar que estão acontecendo situações que nos fazem sofrer? Ou será
que elas são na verdade uma forma de prazer? Pode existir prazer na dor? Caso
seja uma dor psicológica, passageira e restrita à imaginação, isso somado com a
certeza de que o desprazer imaginado jamais se realizará, pode isso ser um
prazer? Imaginar situações na relação que uma vez acontecendo nos magoe, e
sabendo que não vão acontecer pode tornar os futuros encontros dos casais mais calientes? Masoquismo estético (Kierkegaard)?