terça-feira, 26 de junho de 2012

A época da barba


A gente é um pouco, quase sempre, outros mais, outros menos, aquilo que o mundo nos pede para ser, até certo ponto. É engraçado quando a gente percebe que em um momento de sua vida aquilo que um dia foi seu pior pesadelo transforma-se no seu principal trunfo e orgulho, além das honrarias. Vide a nossa atual presidente ex-ativista de esquerda.
Alguma relação entre aparência e opção política? Não estou me lembrando de nenhum político de certa expressão de tendência direitista e com barba nos últimos tempos. Naturalmente que reis barbudos existiram inúmeros. Somente no Brasil tivemos dois Pedros barbudos. Incrível é a imagem deles que ficou para a posteridade: o Pai com cara de filho e o filho com cara de Pai.
Tenho que confessar que não fiz nenhum levantamento de dados para confirmar cientificamente tal fato. Não resta dúvida que meu senso comum me guia nesse momento. No entanto, sinto que muitos outros teriam a mesma conclusão: existe uma determinação da opção política para com a aparência do político. Naturalmente não podemos estender tal questão a todo o espaço-tempo histórico.
Esta lorota toda é para que eu possa comentar porque em certo momento da minha vida optei por deixar a barba por fazer. E como a foto confirma tratava-se de uma senhora barba.
O antípoda da pergunta recebe um sonoro sim por parte da maioria dos que eram uspianos nos tempos da ditadura militar, principalmente os estudantes de ciências humanas. Professor de Geografia que não ostentasse uma boa barba na cara já levantava suspeitas de reaça. Mas era dada uma chance para ele explicar a opção assumida.
Como a existência costuma vir antes da essência, como queria Sartre, um professor de geografia em tempos de ditadura militar o mínimo que ele podia era carregar uma barba na cara para expressar de forma bem clara sua indignação. Quando era possível iam bem, além disso. Interessante o episódio de circulação corrente pelos uspianos e cruspianos dos oitenta quanto à ocupação militar (invasão militar na opinião dos cruspianos ou será que a palavra não é bem essa? Com certeza para muitos não seria em hipótese alguma) se não me engano no final dos anos sessenta, do Conjunto Residencial da USP - Crusp. É possível neste caso exemplificar o jogo político das palavras. Para cada opção de ação um rótulo mais adequado em função dos interesses das partes no jogo pelo poder. O jogo político - um palavreado contra o outro. Retomada ou invasão, outro dilema nos mesmos moldes.
Na retomada do CRUSP os estudantes e os professores de letras são aqueles que dão início ao processo, na medida em que uma situação de necessidades de novos espaços para o curso de Letras, a necessidade de subsistência misturada com laboratórios políticos para quadros das mais diversas tendências, e infelizmente, da contribuição nem sempre bem vinda daqueles que não têm a menor noção do que esteja acontecendo, gerando na maioria das vezes prejuízos para, ora um lado, ora o outro.
Participar de uma assembleia política numa universidade não deixa de ser uma experiência interessante para que se possa perceber o jogo da fala com as palavras muito bem escolhidas que expressam uma visão dos fatos, e que permite levá-los para onde se quer, de acordo com os interesses do grupo político. Possibilita, portanto, adentrar-se pelos meandros da política e, infelizmente da politicagem. Caso fizéssemos uma distinção entre duas ideias com rótulos bem parecidos, mas que expressassem cada qual o conceito que lhe corresponde de forma clara poderíamos considerar política como o que se pode democraticamente e com consenso social considerar como a atitude que se espera de um grupo de cidadãos, habitantes da polis. Já politicagem poderia ser toda forma de política que não se enquadra no conceito dado. Aquele que tem a posse do discurso, da fala... Que logicamente expressa uma ideia que ora defende isso e aquilo. Os detentores do discurso estabelecem as regras para os órfãos da palavra. Esta para eles não tem o mesmo resultado que para os outros, uma vez que sem seu uso a palavra se transforma em silêncio. Este não produz reações, a não ser o som. Mas não que o silêncio exija que o som se manifeste. Não se trata disso. O som existe independente do silêncio e vice-versa e, o mais legal é que os dois se casam na música. É um casamento para ninguém por defeito e de causar muita inveja nos ex-quase apaixonados separados. O político detém a posse do som linguistico, da palavra, do discurso, do logos e o povo a posse do silêncio. Por aqui, quase sempre e na maioria dos casos o único momento em que o povo tem acesso à palavra é na hora do voto. A grande questão é como conseguir que o povo perceba que lhe fizeram um passe, que a bola está dominada e que só falta estufar a rede. Na maioria das vezes estufa o bolso, para não dizer a cueca, dos detentores da posse da palavra. Conclusão: onde eu assino para ser candidato a um cargo público? Tudo isso e muito mais se aprende em uma assembleia universitária, principalmente naquelas em que se está discutindo o acesso aos bens vitais diários, como onde dormir, onde comer, onde trabalhar, e por aí vai... 

Papel aceita tudo II


Outro dia eu disse que tenho uma mania de tentar ir fundo nas ideias. O motivo para isso é nada mais que um exercício cerebral e uma forma de viver. Ocupar-se de ideias que outros tiveram que outros formularam, para quê? Por que me preocupar em saber se Berkeley foi um gênio fenomenal ou um grande idiota? O que isso importa para a minha existência, para a minha presença neste mundo? Porque querer ira além do meu senso comum? Talvez a questão mesma seja: o que importa afinal? Se a morte é certa que lições tirar? Viver para a morte? Tentar negar a morte? Quem vai sair vencendo no tribunal: a ré, filha do pai congelado que espera uma volta futura por um milagre científico, ou as que lhe querem como todo mundo a sete palmos plantado. Claro que tanto faz! Nada vai mudar nas duas soluções porque se trata de um dilema. Dilemas são fenômenos (aquilo que se faz ver, que se mostra e desvela) que posso considerar de categoria inferior, portanto são irrelevantes no que diz respeito a uma abordagem político social, interessantes os dilemas para outras formas de conhecimento, como a sociologia, a psicologia, entre outras. O que importa aqui é que o existir enquanto cidadão, homem, ser humano dotado de livre arbítrio e tudo mais acabam quando se para de respirar. Não há o que discutir. Mas o que importa é mesmo o que fazer com nosso tempo de respiração. Panaceia ou caminho único? Talvez o caminho do meio. Aparentemente uma panaceia, na verdade caminho único. As pessoas são mais iguais do que parecem. Há realmente uma formatação social. Não há como negar. As alternativas não são bem vindas porque representam o novo e ele pode ser perigoso. A diferença é tratada com indiferença premeditada. Portanto, se somente existe o percebido e o mundo material é uma grande ilusão a vida tem que se resumir em perceber. O que vale a pena perceber? Circulo vicioso, voltamos ao ponto de partida: viver = perceber? O que podemos perceber com o afeto, com o abraço, com o carinho? Vale a pena? Principalmente quando a alma não é pequena como a de Fernando Pessoa.
A máxima de Berkeley “ser é ser percebido” é uma opção por considerar a pré-sença como o observado, experimentado, “experiênci-ado característico do empirismo pelo qual optou. Posso dizer que sua opção é por ser um induísta-empírico? Que a matéria não existe é uma ideia muito anterior à sua época. A novidade Berkeley-ana, na minha opinião, foi na forma de utilização dessa ideia na defesa de uma maneira de conhecer empírico-religiosa. Que a física quântica esteja confirmando tal ideia é algo relevante. A percepção nos dois casos parece ser a mesma. São humanas, diria Nietzsche “demasiadamente humanas”. Uma mais sofisticada que a outra em função dos recursos perceptivos utilizados, mas com resultados semelhantes. Isso é relevante para uma existencialista? Talvez esta argumentasse que existe a matéria que ela precisa para realizar sua existência, sua presença no mundo, para que seu ser possa ser - realizar-se enquanto existência no mundo até que chegue a morte. Toda a Filosofia de Nietzsche, na minha opinião, resume-se em valorizar a vida, a alegria de viver, carpe diem, aproveitem o dia enquanto ele está disponível. Não se trata no entanto, de uma opção excessivamente estética kiekegaardiana. Nietzsche não pensa numa liberdade absoluta mas numa vida que possa ser vivida inteiramente aqui e agora e não em um mundo real mais importante que existe não se sabe bem onde. A angústia de Kiekegaard não tem sentido em Nietzsche já que esse sentimento, enquanto vertigem da liberdade, depende de um pensamento que coloca para si uma liberdade absoluta de escolha em nossas decisões. Optar por dançar na rua mesmo sabendo que para alguns isso seja fazer papel de tolo, ou não considerar nosso dever determinadas situações desagradáveis na vida, e procurar o que nos traz alegria, não passa por um dilema de escolha e sim, por uma postura aberta para o que a vida nos tem a oferecer, e que para nós é o que escolheríamos viver. Podemos fazer isso? Escolher viver da maneira que consigamos viver do jeito que queremos? Que sejamos alegres, realizados, felizes? Quais os gargalos? Onde a engrenagem emperra? Cada qual em seu canto sofre seu tanto? Ou vive seu tanto de vida que consegue? Cada um sabe onde o calo lhe aperta? Por que tanto pessimismo no senso comum? Sofrimento recolhido forja máximas pessimistas? Isso reforça uma postura anti-nietzcheana?

Papel aceita tudo!


Uma coisa sempre me incomodou quando leio a afirmação corrente de que Parmênides e Heráclito excluem-se um ao outro teoricamente. Os dualismos excludentes ad infinitum são possíveis? Existem? É possível que esses dualismos deixem de existir numa conciliação que põe fim o seu caráter excludente? Os contrários na verdade não são opostos, mas integrados na produção deles próprios alternativamente: a visão de mundo em mutação dos antigos chineses Admitindo um sim, podemos dizer que se existem contrários que ainda não atingiram esse outro nível integrador é porque tal fato não se revelou, manifestou, se desvelou, ou seja, realizou-se como fenômeno. Até aqui um total palavreado carente de certeza científica, mas com alguma chance de ter uma serventia: investigar para tentar fazer aflorar o que não quer se mostrar como evidente. Mais um problema: quando um fenômeno não se mostra evidente isso ocorre porque simplesmente não existe tal fenômeno, já que essa é a característica fundamental do fenômeno: mostrar-se.
O tudo é fluxo e o tudo é uno são opostos excludentes? Não há aqui aquela situação na qual um engendra o outro sucessiva e alternadamente no caminho trilhado pelo cosmos, ou pelo Tao? O “não ser” (WU) característico do Tao é o oposto da Pré-sença de Heidegger? O ser e o nada de Sartre? Temos que continuar perguntando: o logos de Heráclito é o WU ou a pré-sença? Parmênides nega o WU, o nada, o não ser, de acordo com ele de forma lógica só é possível o ser: se algo existe não pode ser, ao mesmo tempo, o que não existe. Parmênides conclui que a mudança não é possível. No entanto, o fato de ter existência não determina a imutabilidade. O ser pode ser o que existe e ao mesmo tempo caracterizar-se pela mudança contínua e infinita. Dessa forma: o uno pode ser puro fluxo.O fluxo do uno que se mostra, que pode ser descrito, no Taoísmo, não é o verdadeiro caminho. Esse não se mostra: tem a qualidade do não ser. Para a fenomenologia, no entanto é o que importa entender, explicar, compreender justamente o desvelamento do que existe.
O logos divino de Heráclito pode ser o Deus que tudo observa de Berkeley. O logos divino tudo governa e o Deus que tudo vê. O que muda entre a opção pelo governar e o ver? O olhar enquanto manifestação fundamental do cosmos nos leva à postura empirista inglesa. O governar manifesta a origem política do Taoismo? A visão de mundo em mutação constante dos chineses é o mesmo tudo é fluxo de Heráclito. A influência oriental na origem da Filosofia Ocidental é evidente. Enquanto a filosofia oriental manteve-se praticamente a mesma ao longo do tempo como uma tradição que não se alterou a filosofia ocidental adentrou-se por meandros diversos com resultados diversos, ora com hegemonias teóricas, verdadeiros paradigmas que foram sendo questionados e substituídos por outros. Talvez isso indique um conhecimento sólido que se mantém vivo com o passar dos séculos de um lado e, por outro, um conhecimento que ora acha que encontrou um terreno sólido para em seguida trocá-lo por outro. E, além disso, passaram a existir as dicotomias polêmicas tais como: racionalismo X empirismo; monismo X pluralismo, materialismo X idealismo, entre outros. Os mesmos ensinamentos de Lao Tse, Confúcio, Sidarta Gautama continuam os mesmos ainda hoje. Parmênides está contido em Heráclito. P H. Não restam dúvidas de que uma ou várias ideias surgem com alternativos rótulos em momentos e lugares diferentes. Projeto: inventariar tal fato. Futuramente talvez seja possível. 

domingo, 17 de junho de 2012


RESUMO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE JAIRO MELGAÇO.

Título: GEOMORFOLOGIA, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM MUNICÍPIOS  DO ALTO JEQUITINHONHA – SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL – MG.
Autor: Jairo Melgaço
Orientadora: Profa. Dra. Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin

Data de Defesa: 25/01/99

Banca Examinadora: Profa. Dra. Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin (UFMG)
Profa. Dra. Heloísa Soares de Moura Costa (UFMG)
Prof. Dr. Marcos Roberto Moreira Ribeiro (UFMG)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Lúcio (UFMG)
Área de Concentração: Geografia e Análise Ambiental
Resumo:
            O planejamento Ambiental pode e deve estar associado com a Educação Ambiental. Na implementação das medidas, ela pode ser um canal de comunicação e de ações concretas.
            A geografia apresenta uma relação direta e histórica com os dois componentes básicos da Educação Ambiental: o ambiente e a educação.
            Importa o(s) homem(ns) é sua participação na mudança de atitudes e de valores na utilização mais adequada dos recursos naturais, no destino dos dejetos e, consequentemente, na construção de um mundo melhor.
            A área de abrangência do Planejamento é definida em função de suas características e objetivos. Um Planejamento Ambiental Regional busca uma escala na qual se realiza “o máximo de generalidade compatível com o máximo de verdade concreta” (PÉDELABORDE). Também pode fornecer opções para a implementação de Planos Setoriais e Locais.
            O caminho metodológico é uma tentativa de conciliação, na forma de uma complementariedade, entre as abordagens geográficas sistemática, ou geral e corológica ou regional. O ataque é contra a depredação e a poluição. A primeira, nesse caso em particular, é o foco principal. A busca é pela melhoria das condições sócio-ambientais de vida.
            Determinados tipos de planejamentos têm como pré-requisito os inventários ou diagnósticos da situação, para que se possa estabelecer o prognóstico. A geografia física e a geomorfologia, ou vice-versa, apresentam-se como opções, para que seja possível estabelecer um roteiro metodológico para a produção de tais diagnósticos.
            A Geomorfologia, ou as ciências geográficas em geral, podem se relacionar com a educação ambiental de duas maneiras: 1 – realizando macrodiagnósticos que identifiquem áreas-problemas e, ao mesmo tempo, forneçam as informações necessárias para projetos locais-participativos de educação ambiental, voltados para a solução desses problemas; 2 – fornecendo resultados de pesquisas pré-selecionados, em função da população-alvo a que se destina, o que poderá levar a uma maior participação e co-responsabilidade para com as soluções propostas.
            A área analisada apresenta pelo menos oito possíveis áreas-alvo para esses projetos de educação ambiental: SW, NW e SE de Gouveia; parte central de Couto de Magalhães de Minas; Felício dos Santos; NW do Serro (Espinhaço); região central do Serro; parte sul de Datas e Presidente Kubitschek.
            O roteiro para o estabelecimento de documentos cartográficos sócio-ambientais permite a identificação de áreas-meta e grupos-meta para aplicação de projetos locais-participativos de educação ambiental.

terça-feira, 5 de junho de 2012


Quem não gosta de futebol é doente não só do pé e da cabeça, mas também do juízo. Tem coisa mais divertida que ver a bola estufando a rede junto com a cara de bobo do goleiro? Por que será que ainda existem verdadeiros “panacas” que se dizem peladeiros e não sabem da existência da regra fundamental de que o futebol é um jogo coletivo. Em algumas situações essa não parece ser a regra. Por exemplo, hoje o Neymar é quem ganha o jogo e também quem perde. Que coisa estranha: alguém que não sabe quem é o Neymar. Pela segunda vez o Word marcou com vermelho o seu nome. Que isso Microsoft! Ah Microsoft ele reconhece e ajuda a corrigir o inglês. Voltando ao causo: se hoje é o Neymar, já foi o Pelé, o Garrincha, o Zico, o Romário e tantos outros (quanto ao Romário fica uma ressalva: na copa dos EUA ele garantiu o caneco desde a classificação para a conquista da vaga para a participação do Brasil). Por que essa necessidade de ídolos no futebol. É vital? Sem isso ele corre o risco de desaparecer? Será que tem alguém que acredita nisso. Ou talvez o buraco seja mais embaixo: determinação mercadológica e financeira? Não resta dúvida. O futebol é o negócio dos sonhos. Os volumes financeiros implicados são mais que atraentes, são literalmente fora da realidade. Mas por aqui o assunto futebol deixa de ter graça, a não ser que essa seja essa a sua graça. A minha certamente não é. O mais legal do futebol é que ele cabe em todo momento que você tem disponível para ele. Simples assim. Jogar, ver jogar, torcer, comentar, gozar os que estão do outro lado, sem violência pelo amor de Deus. Como um esporte pode ser transformado em violência? Ô caduquice sem tamanho! Afinal a superação das marcas estabelecidas pela capacidade humana, anotadas nos torneios, faz aflorar o processo de aperfeiçoamento humano que nada tem a ver com a violação da integridade física e mental. Muito pelo contrário. Então não dá para entender: só pode ser mais uma das grandes caduquices humanas.

Eu sempre senti vontade de ir fundo, mergulhar mesmo, na compreensão e explicação das coisas e, o que descobri foi que não tem tarefa mais árdua. Esta história é longa, vai longe. Mais de dois mil anos de conhecimento, de ciência e, principalmente de filosofia, que sempre quis estar na vanguarda, com o agravante de ser ela decorrente, principalmente da capacidade de pensar do homem. E é engraçado porque ninguém nega o fato de que o homem pensa com o cérebro e, no entanto, existem os céticos quanto a considerar frutos exclusivos do pensar como sem conteúdo de validade científica. Aí começa outra história com tantos rótulos com inúmeras incertezas decorrentes quanto ao que seja conhecimento válido.  Filosofia da Ciência, Epistemologia e mais um monte de “logias” que não querem nada mais que colocar a produção de conhecimento nos trilhos da verdade. O problema é que em grande parte do com que se preocupa o conhecimento das regras para forjar a nova informação considerada verdadeira ou útil costuma falhar. As verdades estão vivas: nascem percorrem certo tempo e depois morrem de velhice, de caduquice. Cada verdade que se transforma em ruínas é mais uma prova da caduquice humana. Acha que é e acaba por reconhecer que não é bem assim como se pensava.

Podemos falar de Deus e das suas repercussões humanas decorrentes que, infelizmente em muitas situações são inclusive violentas. Mas a ideia de Deus na cabeça de cada um varia em diversos tons. Por exemplo, o crente acredita, e por acreditar exerce suas súplicas e, quando isso passa a funcionar e os verdadeiros milagres são reconhecidos, o melhor é mesmo esse caminho. O outro é no mínimo ilógico. Basta pensar que ser crente e fiel a Deus não custa praticamente nada, e o que custa costuma quase sempre ser coisa agradável, com gente com quem tenhamos afinidade, na medida do possível. Ateísmo não é uma caduquice? Mas não só por isso: quem ainda não sentiu os sinais de Deus em todos os momentos de sua vida? Agora, religião é outra coisa...Em verdade o que importa é o papel desempenhado pela religião e por Deus na nossa vida. Penso que toda vez que um ou outro nos impede de realizar nossas vontades ambos não valem a pena serem levados a sério. Deus que tudo criou inclusive a vida com certeza não quer nenhum tipo de negação de nosso prazer de viver. 

Podemos falar de música. Que incrível invenção humana inspirada no ritmo natural das coisas que em muitas situações a regularidade impõe-se fazendo-nos acreditar em determinações naturais nas quais determinados acontecimentos ciclicamente ocorrem de forma mais ou menos semelhante, e que ao longo do tempo geológico vai se transformando, deixando para trás o paleo e fazendo surgir o presente novo forjado no berço da Natureza, na verdade da Segunda Natureza, a humana ou podemos dizer que a música seja também um Don natural: a Primeira Natureza canta? Quem acredita que o vento sibilando por entre os galhos e folhas de uma árvore, que benção de Deus esse ser: uma árvore. Quem é que nunca namorou uma árvore, no bom sentido de estar com os olhos vidrados e tendo uma sensação agradável de uma relação eu e a árvore. Adoro admirar árvores do cerrado, aquelas mais ou menos redondinhas com troncos fortes e retorcidos com folhas verdes enormes e arredondadas. Dá vontade de ir ficar bem debaixo dela como um pintinho debaixo da galinha. Não sei se converso comigo mesmo ou na verdade estou conversando com minha companheira árvore: que canta, que pode cantar no vento o seu assovio às vezes alegre e às vezes tenebroso. De onde o homem retirou sua inspiração para criar a música? No canto dos pássaros? Nos sons diversos dos animais? Parece não haver dúvida disso. Mas também podemos pensar que converso comigo tendo como cúmplice a minha amiga árvore que vem para me dar sossego e sombra, além da companhia é claro.

O eterno retorno...

Para falar podemos começar... Digamos que eu queira contar alguns causos da vida que cada um vive a seu modo, porém com aquele algo mais que tudo envolve e relaciona, de uma forma ou de outra. Que eu queira selecionar o que prefiro, o que me diz alguma coisa, o que tem alguma relação com a minha vida, afinal o que importa mais que nossas vidas? Que seja esse espaço um pouco de mim que tem muito de vocês companheiros dessa curta estrada da vida, que não podemos nem pensar em deixar de curti-la ao máximo, de forma intensa, enquanto não termina... Talvez tendo sempre em mente a ideia do eterno retorno de de Nietzsche:


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

domingo, 3 de junho de 2012

Já fui assim também!


Já fui assim!


Eu era assim!


Hoje sou mais ou menos assim!



Para início da prosa...

Em talvez raros momentos em nossas curtas vidas paramos por alguns segundos diante de uma retrospectiva interrogativa: como me tornei o que sou hoje? Várias imagens de momentos, de pessoas, de lugares, de coisas boas e ruins surgem desorganizadamente e a gente começa a tentar identificar o que teria sido essencial, determinante. Família, trabalho, educação, amigos e inimigos, infância, adolescência, fase adulta, ser marido oficialmente duas vezes e informalmente mais duas, ser pai, ser filho, ser irmão, colega de faculdade, colega de trabalho, as diversas fases dos namoros, o relacionamento com as esposas, o futebol, o truco e o buraco, o violão, a clarineta e o saxofone, os festivais de música, a participação na banda e na Casa de Cultura de Dores do Indaiá onde nasci, me casei pela segunda vez, e moro atualmente; São Paulo onde vivi 11 anos, Belo Horizonte onde fiz mestrado, Bom Despacho onde me casei pela primeira vez e morei 16 anos e. quem sabe futuramente morar em uma cidade do nosso litoral; o primeiro automóvel ("Maveric" rebaixado vidro fumê, rodas de magnésio), a primeira moto (RX 180), as mudanças de mentalidade, a relação com o conhecimento, principalmente com a Filosofia e profissionalmente com a Geografia, a USP na década de 80, a PUC-MG e a UFMG, o trabalho e a vida na FASF-LUZ e na Faceb/BD... vai se formando um cordão sem fim de rememorações, recordações e expectativas futuras. De uma coisa tenho certeza: mudaria pouca coisa na minha trajetória. Não mudaria nada na infância, seria um pouco menos ingênuo na adolescência, teria escolhido melhor em quem confiar emocionalmente na fase adulta.