terça-feira, 26 de junho de 2012

Papel aceita tudo II


Outro dia eu disse que tenho uma mania de tentar ir fundo nas ideias. O motivo para isso é nada mais que um exercício cerebral e uma forma de viver. Ocupar-se de ideias que outros tiveram que outros formularam, para quê? Por que me preocupar em saber se Berkeley foi um gênio fenomenal ou um grande idiota? O que isso importa para a minha existência, para a minha presença neste mundo? Porque querer ira além do meu senso comum? Talvez a questão mesma seja: o que importa afinal? Se a morte é certa que lições tirar? Viver para a morte? Tentar negar a morte? Quem vai sair vencendo no tribunal: a ré, filha do pai congelado que espera uma volta futura por um milagre científico, ou as que lhe querem como todo mundo a sete palmos plantado. Claro que tanto faz! Nada vai mudar nas duas soluções porque se trata de um dilema. Dilemas são fenômenos (aquilo que se faz ver, que se mostra e desvela) que posso considerar de categoria inferior, portanto são irrelevantes no que diz respeito a uma abordagem político social, interessantes os dilemas para outras formas de conhecimento, como a sociologia, a psicologia, entre outras. O que importa aqui é que o existir enquanto cidadão, homem, ser humano dotado de livre arbítrio e tudo mais acabam quando se para de respirar. Não há o que discutir. Mas o que importa é mesmo o que fazer com nosso tempo de respiração. Panaceia ou caminho único? Talvez o caminho do meio. Aparentemente uma panaceia, na verdade caminho único. As pessoas são mais iguais do que parecem. Há realmente uma formatação social. Não há como negar. As alternativas não são bem vindas porque representam o novo e ele pode ser perigoso. A diferença é tratada com indiferença premeditada. Portanto, se somente existe o percebido e o mundo material é uma grande ilusão a vida tem que se resumir em perceber. O que vale a pena perceber? Circulo vicioso, voltamos ao ponto de partida: viver = perceber? O que podemos perceber com o afeto, com o abraço, com o carinho? Vale a pena? Principalmente quando a alma não é pequena como a de Fernando Pessoa.
A máxima de Berkeley “ser é ser percebido” é uma opção por considerar a pré-sença como o observado, experimentado, “experiênci-ado característico do empirismo pelo qual optou. Posso dizer que sua opção é por ser um induísta-empírico? Que a matéria não existe é uma ideia muito anterior à sua época. A novidade Berkeley-ana, na minha opinião, foi na forma de utilização dessa ideia na defesa de uma maneira de conhecer empírico-religiosa. Que a física quântica esteja confirmando tal ideia é algo relevante. A percepção nos dois casos parece ser a mesma. São humanas, diria Nietzsche “demasiadamente humanas”. Uma mais sofisticada que a outra em função dos recursos perceptivos utilizados, mas com resultados semelhantes. Isso é relevante para uma existencialista? Talvez esta argumentasse que existe a matéria que ela precisa para realizar sua existência, sua presença no mundo, para que seu ser possa ser - realizar-se enquanto existência no mundo até que chegue a morte. Toda a Filosofia de Nietzsche, na minha opinião, resume-se em valorizar a vida, a alegria de viver, carpe diem, aproveitem o dia enquanto ele está disponível. Não se trata no entanto, de uma opção excessivamente estética kiekegaardiana. Nietzsche não pensa numa liberdade absoluta mas numa vida que possa ser vivida inteiramente aqui e agora e não em um mundo real mais importante que existe não se sabe bem onde. A angústia de Kiekegaard não tem sentido em Nietzsche já que esse sentimento, enquanto vertigem da liberdade, depende de um pensamento que coloca para si uma liberdade absoluta de escolha em nossas decisões. Optar por dançar na rua mesmo sabendo que para alguns isso seja fazer papel de tolo, ou não considerar nosso dever determinadas situações desagradáveis na vida, e procurar o que nos traz alegria, não passa por um dilema de escolha e sim, por uma postura aberta para o que a vida nos tem a oferecer, e que para nós é o que escolheríamos viver. Podemos fazer isso? Escolher viver da maneira que consigamos viver do jeito que queremos? Que sejamos alegres, realizados, felizes? Quais os gargalos? Onde a engrenagem emperra? Cada qual em seu canto sofre seu tanto? Ou vive seu tanto de vida que consegue? Cada um sabe onde o calo lhe aperta? Por que tanto pessimismo no senso comum? Sofrimento recolhido forja máximas pessimistas? Isso reforça uma postura anti-nietzcheana?

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