Outro dia eu disse que tenho uma mania de tentar ir
fundo nas ideias. O motivo para isso é nada mais que um exercício cerebral e
uma forma de viver. Ocupar-se de ideias que outros tiveram que outros
formularam, para quê? Por que me preocupar em saber se Berkeley foi um gênio
fenomenal ou um grande idiota? O que isso importa para a minha existência, para
a minha presença neste mundo? Porque querer ira além do meu senso comum? Talvez
a questão mesma seja: o que importa afinal? Se a morte é certa que lições
tirar? Viver para a morte? Tentar negar a morte? Quem vai sair vencendo no
tribunal: a ré, filha do pai congelado que espera uma volta futura por um
milagre científico, ou as que lhe querem como todo mundo a sete palmos
plantado. Claro que tanto faz! Nada vai mudar nas duas soluções porque se
trata de um dilema. Dilemas são fenômenos (aquilo que se faz ver, que se mostra
e desvela) que posso considerar de categoria inferior, portanto são
irrelevantes no que diz respeito a uma abordagem político social, interessantes
os dilemas para outras formas de conhecimento, como a sociologia, a psicologia,
entre outras. O que importa aqui é que o existir enquanto cidadão, homem, ser
humano dotado de livre arbítrio e tudo mais acabam quando se para de respirar.
Não há o que discutir. Mas o que importa é mesmo o que fazer com nosso tempo de
respiração. Panaceia ou caminho único? Talvez o caminho do meio. Aparentemente
uma panaceia, na verdade caminho único. As pessoas são mais iguais do que
parecem. Há realmente uma formatação social. Não há como negar. As alternativas
não são bem vindas porque representam o novo e ele pode ser perigoso. A
diferença é tratada com indiferença premeditada. Portanto, se somente existe o
percebido e o mundo material é uma grande ilusão a vida tem que se resumir em
perceber. O que vale a pena perceber? Circulo vicioso, voltamos ao ponto de
partida: viver = perceber? O que podemos perceber com o afeto, com o abraço,
com o carinho? Vale a pena? Principalmente quando a alma não é pequena como a
de Fernando Pessoa.
A máxima de Berkeley “ser é ser percebido” é uma opção
por considerar a pré-sença como o observado, experimentado, “experiênci-ado característico do
empirismo pelo qual optou. Posso dizer que sua opção é por ser um induísta-empírico?
Que a matéria não existe é uma ideia muito
anterior à sua época. A novidade Berkeley-ana,
na minha opinião, foi na forma de utilização dessa ideia na defesa de uma
maneira de conhecer empírico-religiosa. Que a física quântica esteja
confirmando tal ideia é algo relevante. A percepção nos dois casos parece ser a
mesma. São humanas, diria Nietzsche “demasiadamente humanas”. Uma mais
sofisticada que a outra em função dos recursos perceptivos utilizados, mas com
resultados semelhantes. Isso é relevante para uma existencialista? Talvez esta
argumentasse que existe a matéria que ela precisa para realizar sua existência,
sua presença no mundo, para que seu ser possa ser - realizar-se enquanto
existência no mundo até que chegue a morte. Toda a Filosofia de Nietzsche, na
minha opinião, resume-se em valorizar a vida, a alegria de viver, carpe diem, aproveitem o dia enquanto
ele está disponível. Não se trata no entanto, de uma opção excessivamente
estética kiekegaardiana. Nietzsche
não pensa numa liberdade absoluta mas numa vida que possa ser vivida
inteiramente aqui e agora e não em um mundo real mais importante que existe não
se sabe bem onde. A angústia de Kiekegaard não tem sentido em Nietzsche já que
esse sentimento, enquanto vertigem da liberdade, depende de um pensamento que
coloca para si uma liberdade absoluta de escolha em nossas decisões. Optar por
dançar na rua mesmo sabendo que para alguns isso seja fazer papel de tolo, ou
não considerar nosso dever determinadas situações desagradáveis na vida, e
procurar o que nos traz alegria, não passa por um dilema de escolha e sim, por
uma postura aberta para o que a vida nos tem a oferecer, e que para nós é o que
escolheríamos viver. Podemos fazer isso? Escolher viver da maneira que consigamos
viver do jeito que queremos? Que sejamos alegres, realizados, felizes? Quais os
gargalos? Onde a engrenagem emperra? Cada qual em seu canto sofre seu tanto? Ou
vive seu tanto de vida que consegue? Cada um sabe onde o calo lhe aperta? Por
que tanto pessimismo no senso comum? Sofrimento recolhido forja máximas
pessimistas? Isso reforça uma postura anti-nietzcheana?
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