Arthur Rimbaud compôs, entre quinze e dezenove anos, seus “poemas
fulgurantes e visionários, de uma beleza estranha; prosas inauditas; e que ele
tenha atingido os cimos do pensamento então inviolados. Ficamos confusos face á
ideia de que este personagem tenha inexoravelmente renunciado à literatura aos
dezenove anos e que, na segunda fase de sua breve existência, tenha realizado
prodígios dignos de um herói em longas e fantásticas caminhadas, percorrendo a
Europa e os oceanos, dando-se a mil e uma ocupações para ganhar a vida,
aprendendo uma porção de línguas, para malograr, finalmente, na África, onde
cumprirá o resto de seu ciclo infernal em atrozes condições e morrer como um
mártir aos trinta e sete anos. Assim foi a vida trágica de Arthur Rimbaud, um
dos únicos na história dos homens”.
Poemas de Arthur Rimbaud
SENSAÇÃO
Nas belas tardes de
verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada
falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.
MA BOHÈME
(Fantasie)
E
lá me ia, as mãos nos bolsos furados,
E meu casaco era também o ideal.
Eu ia sob o céu, Musa! E te era leal;
Oh! lá! lá! Que esplêndidos amores sonhados!
E meu casaco era também o ideal.
Eu ia sob o céu, Musa! E te era leal;
Oh! lá! lá! Que esplêndidos amores sonhados!
Minha
única calça estava em frangalhos
— Pequeno Polegar sonhador, em minha fuga eu ia
Desfiando rimas e sob a Ursa Maior adormecia,
Ouvindo no céu o doce rumor das estrelas.
— Pequeno Polegar sonhador, em minha fuga eu ia
Desfiando rimas e sob a Ursa Maior adormecia,
Ouvindo no céu o doce rumor das estrelas.
Sentado
à beira das estradas eu as ouvia,
Belas noites de setembro em que eu sentia
O orvalho em meu rosto como um vinho forte;
Belas noites de setembro em que eu sentia
O orvalho em meu rosto como um vinho forte;
Quando
compondo em meio a sombras fantásticas,
Como uma lira eu puxava os elásticos
De meus sapatos gastos, um pé junto ao meu peito!
Como uma lira eu puxava os elásticos
De meus sapatos gastos, um pé junto ao meu peito!
CANÇÃO DA TORRE MAIS ALTA
Juventude
presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.
Eu
me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro.
Augusto retiro.
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro.
Augusto retiro.
Tamanha
paciência
Não irei esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.
Não irei esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.
Qual
o Prado imenso
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imundas.
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imundas.
“O BARCO ÉBRIO”
E
desde então no Poema do Mar mergulhei,
Cheio de astros, lactescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.
Cheio de astros, lactescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.
Onde
tingindo de repente o infinito, delírios
E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!
E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!
Sei
dos céus rasgando-se em raios, e das trombas,
Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver meus olhos videntes!
Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver meus olhos videntes!
Oh, que minha quilha
estoure! Que eu ganhe o mar!
E se anseio mares de
Europa, é a poça
Escura e fria onde ao crepúsculo perfumado
Uma criança se abaixa triste e solta
Qual borboleta de maio um barco delicado.
Escura e fria onde ao crepúsculo perfumado
Uma criança se abaixa triste e solta
Qual borboleta de maio um barco delicado.
(Creditos: “Arnaldo Poesia”)
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