quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Arthur Rimbaud: homenagem a uma vida única, curta e eterna ao mesmo tempo!



Arthur Rimbaud compôs, entre quinze e dezenove anos, seus “poemas fulgurantes e visionários, de uma beleza estranha; prosas inauditas; e que ele tenha atingido os cimos do pensamento então inviolados. Ficamos confusos face á ideia de que este personagem tenha inexoravelmente renunciado à literatura aos dezenove anos e que, na segunda fase de sua breve existência, tenha realizado prodígios dignos de um herói em longas e fantásticas caminhadas, percorrendo a Europa e os oceanos, dando-se a mil e uma ocupações para ganhar a vida, aprendendo uma porção de línguas, para malograr, finalmente, na África, onde cumprirá o resto de seu ciclo infernal em atrozes condições e morrer como um mártir aos trinta e sete anos. Assim foi a vida trágica de Arthur Rimbaud, um dos únicos na história dos homens”.

Poemas de Arthur Rimbaud


SENSAÇÃO
Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.


MA BOHÈME
(Fantasie)
E lá me ia, as mãos nos bolsos furados,
E meu casaco era também o ideal.
Eu ia sob o céu, Musa! E te era leal;
Oh! lá! lá! Que esplêndidos amores sonhados!
Minha única calça estava em frangalhos
— Pequeno Polegar sonhador, em minha fuga eu ia
Desfiando rimas e sob a Ursa Maior adormecia,
Ouvindo no céu o doce rumor das estrelas.
Sentado à beira das estradas eu as ouvia,
Belas noites de setembro em que eu sentia
O orvalho em meu rosto como um vinho forte;
Quando compondo em meio a sombras fantásticas,
Como uma lira eu puxava os elásticos
De meus sapatos gastos, um pé junto ao meu peito!


CANÇÃO DA TORRE MAIS ALTA
Juventude presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.
Eu me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro.
Augusto retiro.
Tamanha paciência
Não irei esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.
Qual o Prado imenso
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imundas.

“O BARCO ÉBRIO”
E desde então no Poema do Mar mergulhei,
Cheio de astros, lactescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.
Onde tingindo de repente o infinito, delírios
E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!
Sei dos céus rasgando-se em raios, e das trombas,
Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver meus olhos videntes!
Oh, que minha quilha estoure! Que eu ganhe o mar!
E se anseio mares de Europa, é a poça
Escura e fria onde ao crepúsculo perfumado
Uma criança se abaixa triste e solta
Qual borboleta de maio um barco delicado.


(Creditos:   “Arnaldo Poesia”) 

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