A
melhor festa no Quartel São João é uma vez por ano: a festa junina. Vale mesmo
a pena ir até lá. Mesmo que o acesso não seja lá essas coisas. A estrada de
terra batida é longa e estreita. Em muitos trechos, só tem espaço para um de
cada vez. Já passei por lá em dia de chuva e aí a coisa se complica mais. Tai
uma boa oportunidade para os políticos da região trabalharem para que seja
possível financiar o asfaltamento por aquelas bandas do sertão de Minas Gerais.
Por outro lado e pensando bem, talvez essa não seja uma boa ideia. Pode-se
perder o lado natural da coisa em si. Mas
o assunto aqui é o Pe Libério que tantos devotos tem por estas bandas de
Leandro Ferreira, Bom Despacho, Martinho Campos e por aí vai... Uma condição
que podemos indicar para que alguém se torne devoto de um santo é a de que se
tenha fé nele, e que se acredite que ele vai ajudar, principalmente nas horas
em que mais se necessite de receber uma graça. Estas são decorrentes da vida de
cada devoto. Por isto os pedidos variam em função do contexto vivido, que gera a
necessidade para o apelo ao santo. No meu caso aconteceu mais ou menos assim:
Fui para a festa junina no Quartel São João num dia chuvoso levando um violão atrás
do banco da pampa. Chegando lá pude ir até a grande fogueira, que já ardia há
tempos. A praça estava cheia de pessoas nas diversas barracas e bares, comendo,
bebendo, conversando, olhando e procurando um olhar, ou algum conhecido, circulando
daqui e dali, tentando tirar o melhor proveito daquela situação toda. Para
encurtar a conversa, encontrei-me com uma amiga cujo pai gostava de tocar
sanfona. Fui até a pampa buscar o violão, e já retornei dando uns retoques na
sua afinação. No bar, em pé perto do balcão, tocamos e cantamos com os que
estavam por ali, e que compunham um coro. Eu diria que se fosse pago o show
daria prejuízo. Mas tudo é festa e com um pouquinho de álcool na cuca perde-se
um pouco do senso de ridículo. Mas tudo vale, pois é festa, aliás, segundo
Sérgio Lima no livro “O corpo significa” a festa instaura a transgressão, neste
caso, o respeito com os ouvidos alheios. Lá pelas quatro da manhã o sanfoneiro
convida para uma galinhada na sua propriedade ali perto. Preparando para irmos
até lá vou buscar a pampa e descubro que não sei onde foi parar a sua chave.
Esta era uma peça única e sem chaveiro. Da
parte do plástico preto utilizado para apoio dos dedos tinha sobrado apenas uma
pequena parte na ponta de fora da chave. Sendo assim, praticamente a chave era
uma pequena cruz de metal. Onde teria perdido a tal da chave? Voltei para o bar
e já estava fechado. Levou a breca. Nada de galinhada na casa do sanfoneiro. Fomos
para outro bar e começamos a tocar violão e agora os ouvidos já não sofreram
tanto. Parece que o ensaio tinha sido proveitoso. Por fim, já bem cansado
peguei um tamborete de madeira e couro de boi e, escorado na parede, resolvi
pregar um pouco os olhos. Preocupado com o sumiço da chave pensava em como
voltar para Dores do Indaiá sem a pampa. Onde poderia conseguir um chaveiro em
fim de uma festa como aquela. Aí me lembrei do Pe. Libério, e das graças que as
pessoas contavam ter alcançado com ele, principalmente com coisas perdidas. “Ô
Pe Libério me ajuda a encontrar essa chave pelo amor de Deus”. Fiz o pedido e
rezei uma ave Maria e um Pai Nosso e cochilei. Lembro que sonhei, mas não com o
quê? De repente acordo e resolvo ir até ao bar para ver se estava aberto para
procurar a chave, que eu teria deixado cair lá perto do balcão da cantoria com
o violão e a sanfona. Estava indo ao
bar, quando não sei por que resolvi ir até a pampa. Fui olhando para o chão da
rua calcada de pedras, coberta com muito barro, poças d’água, restos de
cigarro, um ou outro lixo jogado aqui e ali, com aquela insistente chuvinha de
molhar bobo. De repente me deparo com a chave no meio do barro há uns três
metros antes de chegar até a pampa. Aí fica a questão: coincidência, acaso ou
uma graça alcançada? Mas porque não fui até o bar como pensei quando me levantei
do tamborete? Por que fui direto até a chave sem mudar de direção, nem passar
por um lado da rua onde não poderia vê-la? Eu estava meio sonolento, admito,
porém lembro com certeza que me levantei e fui até a chave de forma direta,
como se alguém ou alguma coisa me guiasse. Na hora eu não tive dúvidas na minha
intuição explicativa: foi mesmo uma graça alcançada com a fé no Pe Libério,
principalmente pelo fato de ter certeza que não pensei o pensamento que
justificaria a ordem do cérebro para a mudança de planos na busca pela chave:
de não mais ir ao bar, mas virar a direita, e ir de olhos fixos no caminho
percorrido na rua em direção à pampa. Eu não pensei que a chave pudesse estar
perto da pampa. Estava com a certeza de que ela tinha caído perto do balcão, já
que eu tinha o costume de colocá-la no bolso de moedas da calça jeans. O mais
provável então era que quando peguei algumas moedas para pagar a conta ela
tinha caído e eu não percebera. Em parte também porque em casa muitas vezes eu
pedi ao Pe Libério para me ajudar a encontrar coisas banais do dia a dia e
sempre deu certo: era pedir e achar bem rápido. Passava um tempo procurando e
não achava. Pedia e achava em seguida. Acaso? Pode ser, mas uma coisa tem que ser
considerada: são muitos acasos e coincidências recorrentes. Por isso não tive
dúvidas. Com a chave na mão contei o ocorrido para minha amiga filha do
sanfoneiro, e ela achou aquilo muito interessante, ao ponto de se tornar devota
de Pe Libério. E não é que aconteceu (mais uma coincidência, acaso ou graça?)
dela me procurar algum tempo depois para contar que havia feito um pedido ao
Pe Libério, e que ele tinha prontamente lhe atendido? Estava precisando de uma
ajuda que logo chegou na figura de seu tio, que simplesmente chegou na casa
dela perguntando se ela estaria precisando de alguma ajuda. Qual a sua opinião?
Acaso ou uma graça alcançada? Eu tendo por não ter esta dúvida. Que tal seguir o
exemplo de minha amiga? Torne-se devoto ou devota de Pe Libério. Reze para ele
e quando precisar peça. Quem sabe ele não atende seu pedido também.
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