A crítica de Nietzsche à crítica de Kant segundo Deleuze (Nietzche e a Filosofia) nos remete a uma
das besteiras pretensamente filosófica que o bípede sem penas de unhas largas
que pensa, fala e escreve tudo que o papel ou a tela do notebook aceita
expressou, sob o título prosopopeia. Seguindo a exposição de Deleuze, e se ele
estiver certo no que diz, o que parece muito provável, realmente temos que
aceitar que para um futuro possível florescimento filosófico, necessário se faz
partir não de Kant, mas de Nietzsche. Se não vejamos: “(...) Nietzsche em A
Genealogia da Moral, quis refazer a Crítica da Razão Pura. (...) A crítica em Kant
não soube descobrir a instância realmente ativa, capaz de conduzi-la. Esgota-se
em compromissos: nunca nos faz superar as forças reativas que se exprimem no
homem, na consciência de si, na razão, na moral, na religião. (...) Parece que Kant confundiu a positividade da
crítica com um humilde reconhecimento dos direito do criticado. Nunca se viu crítica
total mais conciliatória, nem crítico mais respeitoso. (...) a crítica de Kant
não tem outro objeto a não ser justificar, ela começa por acreditar no que ela
critica. (...) Nietzsche, nesse domínio tanto quanto nos outros, pensa ter
encontrado no que chama seu ‘perspectivismo’ o único princípio possível de uma
crítica total. Não há fato nem fenômeno moral, mas sim uma interpretação moral
dos fenômenos (VP, II, 550). Não há ilusões do conhecimento, mas o próprio
conhecimento é uma ilusão: o conhecimento é um erro, pior ainda, uma
falsificação. (...) Kant concluiu que a crítica deveria ser uma crítica da
razão pela própria razão. Não é essa a contradição Kantiana? Fazer da razão ao
mesmo tempo o tribunal e o acusado, constituí-la como juiz e parte, julgadora e
julgada. (...) Quem se mantém atrás da razão, dentro da própria razão? (...)
Com o nome de razão prática ‘Kant inventou uma razão expressamente para os
casos em que não se tem necessidade de preocupar-se com a razão, isto é, quando
é a necessidade do coração, a moral, o dever que falam (VP, I).’ (...) No
irracionalismo não se trata de algo que não seja pensamento, que não seja
pensar. O que é contraposto à razão é o próprio pensamento; o que é contraposto
ao ser racional é o próprio pensador. (...) O legislador de Kant é um juiz de
tribunal, um juiz de paz que fiscaliza ao mesmo tempo a distribuição dos
domínios e a repartição dos valores estabelecidos. (...) Na crítica não se
trata de justificar, mas sim de sentir de outro modo: uma nova sensibilidade.” Por
enquanto é Nietzsche, daqui a pouco pode ser outro...
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Prosopopeia XI
Qual foi a ideia que
Heidegger não quis reconhecer em Nietszche (Deleuze)? Para Nietzsche nunca
existiu o Ser. Ele negou o Ser. Junto com Heráclito passou a acreditar apenas
no vir-a-ser. O movimento eterno do
espaço-tempo no seu eterno retorno como conceito base de explicação da
realidade. Nada é, nem está, e nunca esteve parado, estático. Tudo é fluxo. Movimento (teleológico?) na direção do eterno
retorno do mesmo. Isto nos remete às possíveis respostas teoricamente aceitas
para a pergunta sobre o início do Universo, da realidade, se existiu algo antes
do Big Bang? Uma delas defende a ideia do eterno retorno do mesmo, na medida em
que explica o Universo no tempo, como uma eterna expansão-contração cíclica de
toda sua massa. Um Big Bang seguido de uma expansão do espaço-tempo até o seu limite,
o limiar da expansão, que se transforma em retração, fazendo todo o Universo se
reduzir novamente à bolinha de tênis, que explodira anteriormente, e que
novamente explodirá ao chegar ao antípoda daquele mesmo limiar da expansão, que
agora atinge o limiar da contração, que gera a energia necessária para a
explosão, começando tudo de novo. Partindo da opção por considerar esses
argumentos válidos, e concordando com o fato de que não existe Ser, que tal
coisa não passa de uma ideia que não se realiza enquanto realidade empírica,
uma vez que não é possível jamais fazer do Ser um mapa, por que sua paisagem não
existe, não existe uma Paisagem do Ser, porque não existe Ser, como fica
Parmênides neste contexto? Para que o Ser exista é preciso que a Natureza
resolva congelar seu fluxo vital, ou seja, seu ciclo de vida, sua existência.
Seria como se a Natureza resolvesse ser o que nunca foi, como ser um quadro no
rolo de filmagem de uma história com duração de no mínimo alguns muitos
bilhões de anos. Não dá para parar o filme para o Ser ser. Tornar-se Ser.
Porque o conceito de Ser para se adequar à coisa que designa, que dá nome ou,
por outro lado, substitui no raciocínio, na utilização da razão, para que seja
possível pensar o Ser, primeiro precisa que a coisa de fato exista. Como não
existe Ser não existe filosofia do ser, ontologia? Ou a ontologia teria como
sua preocupação primeira o Sendo? Como
ficaria, então, a questão da filosofia de Heidegger ser um dos pilares da ética
contemporânea? Entretanto, a quem pode interessar tal questão?
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Prosopopeia X
Que questão filosófica é hoje imprescindível? O ser? O que posso conhecer? O que devo fazer? O futuro? Minha opção agora é pela questão do dever. Continuemos com a Prosa sobre ética. Como vimos anteriormente Aristóteles, Spinosa, Kant e Nietzsche são referências de base para uma discussão sobre ética. Na verdade temos que considerar os desdobramentos de tais formulações nas suas consequências atuais. Claro que outras referências podem ser incluídas tais como Wittgenstein e Heidegger, como considera Jacqueline Russ no interessantíssimo livro “Pensamento ético contemporâneo”. Para uma análise das éticas de nosso tempo, deixando de lado as éticas aplicadas (bioética, ambiental, etc.), a autora aborda uma enorme lista: Deleuze, Guattari, Misrashi, Comte-Sponville, Marcel Conche, Clement Rosset, Levinas, K.O. Opel, Jürgen Habermas, Hans Jonas, Michel Foucault, Pierre Hadot, Michel Onfray, Jean Pierre Changeaux, John Rawls e Gilles Lipovetsky, entre outros. Como se vê chegar a um consenso sobre essa questão primordial nesse nosso mundo ocidental marcado pelo individualismo, pelo niilismo, pela falta de referências ideológicas e as consequências desconcertantes das novas tecnologias, não é tão fácil. No entanto, podemos caminhar devagar e sempre. Quanto a Wittgenstein, que junto com Kant, são bases fundamentais para Habermas podemos questionar: dizer é mesmo fazer (ver Austin)? Quando alguém ordena alguma coisa faz essa coisa? Ou quem recebe a ordem é quem realiza a ação? Quando alguém pede alguma coisa significa sempre que o pedido tornar-se-á sempre algo realizado? Pensar é sempre comunicar? Na verdade isso não tem tanta importância como verificar como isso se desdobra em princípios éticos contemporâneos: o princípio de universalização de Habermas que pretende substituir o imperativo categórico de Kant traz realmente algo novo e uma razão prática que pode funcionar e ter uma aplicabilidade consensual e eficiente? O princípio de universalização (“Toda norma válida deve satisfazer a condição segundo a qual as consequências e os efeitos secundários que provêm do fato de que a norma foi universalmente observada na intenção de satisfazer os interesses de cada um podem ser aceitos por todas as pessoas concernidas.”) realmente traz o que de novidade em relação a Kant? Vejamos: Kant quando expressa seu imperativo categórico (“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”) se dirige diretamente ao indivíduo com o “Age” e “possas querer”. Habermas pretende um consenso prático universal onde todas as pessoas que sofrerem a aplicação de uma norma a aceitem consensualmente já que ela realiza e se fundamenta no interesse individual. Será esse consenso possível diante do individualismo atual? Como chegar a um consenso coletivo se na verdade as atitudes privilegiam o individual em detrimento da coletividade? Podemos considerar então que não será a ética que combaterá o narcisismo e o individualismo, mas somente será aplicável se primeiro extinguir o individualismo? As pessoas pensam primeiro a partir do senso comum, que ainda está longe de sofrer seu primeiro salto de qualidade (ruptura) provocado pelas descobertas da ciência. Apesar de que toda e qualquer ética somente seja aplicável na medida em que contemple a totalidade do social acredito que ela seja uma opção individual. Não adianta colocar preceitos e normas para todo lado em out-doors, lousas, etc. que se o indivíduo não se sentir tocado por ela não agirá conforme o que ela pede e pronto. Nesse sentido vale a pena considerar o princípio que expressa a ideia de aplicar valores estéticos à própria vida, formando uma totalidade estético-ética onde regras gerais não determinam o comportamento individual. Penso que toda e qualquer ética existe no comportamento do indivíduo quanto a si mesmo, aos outros e para com o mundo. Ela somente assume realidade e passa a ter e ser viva no contexto individual. Nesse sentido considero muito interessante considerar a estética como base da ética. Estética entendida como arte de viver bem e de acordo com o bom e o belo. Tu deves ser o quanto mais possível bom e belo, belo e bom, por que não? Porque isso tudo é só lorota, papo de quem não tem coisa melhor para fazer, a não ser prosopopeiar.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Prosopopeia IX
Prosopopeia VIII
O sistema filosófico de Espinosa não passa de mais um castelo de cartas? Eu já falei tanta besteira
pretensamente filosófica e ninguém se sentiu provocado. Ninguém!?! Será que o
sentido dado para Prosopopeia é mesmo tão forte que tudo não tem sentido algum já
que quem está opinando é um ser irracional? Estamos a escutar a voz de que ser
do reino animal? Uma besta quadrada bípede. Mais ou menos condizente com o bípede
sem penas de unhas largas dos filósofos gregos. O bípede sem penas de unhas
largas está a opinar e ninguém se sente indignado com tanta asneira, e resolve
lhe dar um conselho direto e claro: você não tem nenhuma vocação, vá fazer outra
coisa do tipo plantar batatas. Plantar batatas ou outro afazer qualquer, o que
importa mesmo é que se você insistir no máximo vai fazer as pessoas darem boas
risadas. Taí um objetivo que considero importante para a filosofia: o rir. Onde
está a aldeia global? Por quê? Será que alguém vai aguentar tais provocações
sem reagir e mostrar onde prosopopei,
tornei-me sem razão? Quem sabe não surge daí uma maneira de entender as
coisas que pelo menos faça sentido. E este tem que ter por base um fundamento:
o homem na sua trajetória no espaço-tempo do sistema solar. Com isto, agora a
filosofia deve ser provocação. Provocar o debate. Verificar as opiniões
divergentes. Fundamentando-se cientificamente, principalmente nas últimas
descobertas como no caso da matéria, palavra esta que se desgastou para de
repente descobrir que não se relaciona a nada existente, pelo menos no sentido
tradicional e original da palavra. Em alguns casos são sistemas inteiros que ruíram
como um grande castelo de cartas. Principalmente quando o construtor do sistema
filosófico entende que o conhecimento novo somente pode realizar-se através do
uso da razão, ou seja, é assumida uma postura racionalista em detrimento da
empírica, quase sempre como opções pré-kantianas. Quando o racionalismo é
absoluto então, fica mais claro tal fato. Uma exceção, em minha opinião, é
Espinosa. Por que o sistema filosófico de Espinosa, apesar de construído por um
racionalismo absoluto, não é um castelo de cartas que pode ruir diante de qualquer
sopro crítico? Penso que isso decorre do fato de que ele foi talvez o primeiro
pensador a relacionar essência e existência: “Digo que pertence à essência de uma coisa aquilo que, sendo dado, faz
necessariamente com que a coisa exista e que, sendo suprimido, faz necessariamente
com que a coisa não exista; por outras palavras, aquilo sem o qual a coisa não
pode nem existir nem ser concebida e, reciprocamente, aquilo que, sem a coisa,
não pode nem existir nem ser concebido.” (Definição II da Parte II da
Ética) Mais tarde Sartre anunciará talvez sua maior máxima: “A existência precede
a essência.”. O que estou observando é que Espinosa aplicou à existência humana
seu esforço por chegar ao verdadeiro conhecimento das coisas e, nessa medida
tratou de liberdade do homem, dos valores, das virtudes, das afecções ou
paixões humanas, com a questão da vida virtuosa, da felicidade entre outras
coisas que se referem com a ética e de como devemos agir para viver bem. Nesse
sentido considero uma ideia importantíssima, porém muito pouco conhecida e,
infelizmente muito pouco colocada em prática: “A felicidade não é o prêmio da virtude, mas a própria virtude; e não
gozamos dela por refrearmos as paixões, mas ao contrário, gozamos dela por
podermos refrear as paixões.” (Proposição XLII da Parte V da Ética) Será
que algum dia esse preceito fará parte do senso comum? O que isso significaria
afinal? Para indicar talvez uma opinião quanto a isso fosse interessante
entender que para o senso comum temos o contrário dessa proposição: a ideia é
de que somente se alcança a felicidade assumindo primeiramente o refrear das
paixões ou afecções da alma, tais como ambição, luxúria, embriaguez, avareza,
lubricidade, o que resultaria necessariamente na tão sonhada felicidade. O que
a proposição de Espinosa expressa é justamente o contrário. Na medida em que
você é feliz tais afecções não podem lhe interessar e, portanto não podem lhe
afetar de nenhuma maneira na condução de sua vida. Talvez daí uma máxima
espinosiana: a felicidade precede e é
condição para a opção por uma vida ética. Será isso mesmo? Caso não seja
não tem importância. É somente mais uma prosopopeia.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
"Causos" verídicos do Zico do Bico II.
O meu tio materno, o Zico
do Bico, era mesmo uma pessoa diferente. Em várias ocasiões de sua vida
aconteceram situações engraçadas. Ele era muito religioso. Sempre participava
dos eventos da igreja e sempre ficava num lugar privilegiado. Toda vez que
tinha palanque em alguma festa religiosa lá estava o Zico, do lado do padre, do
Bispo e assim por diante. Ia à igreja com minha mãe ou sozinho, mas sempre ia.
Uma vez minha mãe entrou na igreja um pouco antes do início da celebração da
missa e, procurando o seu lugar costumeiro para sentar-se, viu que o Zico lá
estava. Andou naquela direção, e quando chegou perto não teve dúvidas, deu meio volta e foi para outro banco fora do alcance do olhar do Zico. É que quando
ela olhou para os pés do Zico ajoelhado viu um destroncamento total nos sapatos
que, para acabar de inteirar tinham os bicos finos. O Zico tinha calçado os pés
trocados e ao ajoelhar-se os bicos que deveriam estar virados para dentro
estavam para fora, numa situação que quem olhava não aguentava e, mesmo dentro
da igreja abria um sorrisinho meio escondido atrás da mão colocada
estrategicamente na frente dos lábios. No entanto para o Zico estava tudo muito
bem e em ordem e, talvez por isso não vejo nenhuma falta de consideração para com ele ao divulgar tal fato. Ele nunca se importou que divulgássemos suas travessuras. Somente depois que terminou a missa e de diversas outras
risadinhas é que minha mãe lhe chamou a atenção, sendo que o problema somente foi
resolvido quando ele voltou para casa. Passados alguns anos o Zico abandonou
por completo os sapatos ou qualquer outro tipo de calçado e passou a andar, por
toda a cidade, descalço mesmo.
Em outra ocasião, o Zico ainda bem jovem
entrou certa manhã com minha mãe na igreja. Minha mãe e ele rezando ajoelhados.
Minha mãe rezava com os olhos cerrados e com o rosto apoiado nas mãos postas.
Ficou assim por um bom tempo e imaginando que o Zico estava do seu lado. No
entanto, quando ela foi se sentar para continuar a rezar notou que o Zico não
estava do seu lado. Olhou para todo lado e nada. Um silêncio mortal. De
repente, o sino que ficava no ato da torre da igreja começou a badalar. Douuuuuuuuummmmm,
Douuuuuuuuummmmm, e mais Douuuuuuuuummmmm. Dava para ouvir na cidade inteira e
todo mundo, provavelmente se perguntava: que batida era aquela, não era para
defunto, nem para procissão, não dava para decifrá-la. Minha mãe também ficou
sem saber o que estava acontecendo e o sino fazendo Douuuuuuuuummmmm e Douuuuuuuuummmmm.
De repente aparece o padre e um sacristão correndo em direção da escada em
caracol que leva ao topo da torre. O padre então pede ao sacristão para ir até lá
em cima para ver o que era aquilo, pois ele também não estava entendendo nada.
Minha mãe continuou onde estava. Passados alguns minutos o sino parou de
badalar. Minha mãe ouvindo uma conversa parecida
com a do Zico na direção de onde ficara aguardando o padre, olhou para trás e
viu o sacristão e o Zico acabando de descer as escadas. O sacristão então disse
ao padre que quando chegou até o sino viu o Zico dependurado na corda que o
fazia badalar e, ainda por cima queria continuar por mais algum tempo, mas que
conseguira convencê-lo de continuar outro dia. O padre, que conhecia o Zico,
achou foi graça e perguntou por que resolvera badalar o sino, ao que o Zico
simplesmente respondia: “hum? Hem? Uai! E não era porque tinha ficado
temporariamente surdo, e sim porque estas sempre foram suas respostas para
qualquer pergunta que lhe faziam.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Edgar Allan Poe: A Esfinge, um conto humorístico.
No texto “A Filosofia da
Composição” Edgar Allan Poe esclarece sobre sua maneira de criar uma ficção: “Só
tendo o epílogo constantemente em
vista poderemos dar a um enredo seu aspecto indispensável de consequência, ou
causalidade, fazendo com que os incidentes e, especialmente, o tom da obra
tendam para o desenvolvimento e sua intenção.” O criador do conto policial e
inspirador de Conan Doyle em cuja novela surge Sherlock Holmes, segue tal
preceito a risca em todos seus contos. Em “A
Esfinge” (um conto humorístico) não foi diferente.
A ESFINGE
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Edgar Allan Poe: duas passagens do poema em prosa "Eureka".
Edgar Allan Poe nasceu em
Boston no dia 19 de janeiro de 1809 e faleceu em Baltimore em 7 de outubro de
1849. Fez parte do movimento romântico americano, e lhe é creditada a invenção
do gênero ficção policial. Também contribuiu com o gênero da ficção científica.
Em março de 1848 publicou Eureka
acreditando ter escrito um livro revolucionário sobre o universo, no entanto
ele próprio advertiu que ele deveria ser lido como um poema: “O que proponho aqui é verdadeiro; portanto
não pode morrer. (...) Contudo, é somente como um Poema que desejo seja esse
trabalho julgado depois da minha morte.”
Uma passagem de Eureka onde Edgar Allan Poe contrapõe a
nossa sensação de existir na juventude e na idade adulta, relacionando a nossa
existência e nossa alma com outras almas e com Deus.
O que enxergaríamos se olhássemos
para direções diferentes a partir do ponto em que estamos na Via-Láctea? Para Edgar
Allan Poe em Eureka seria assim:
Casamento: Que tal dar algumas risadas com opiniões a respeito?
“O casamento é um romance
no qual o herói morre no primeiro capítulo.” (Anônimo)
“Toda mulher deveria casar;
mas o homem, não.” (Disraeli)
“Ser amável todos os dias com a mesma pessoa acaba com os nervos da gente.” (Disraeli)
“Estou feliz por não ser
homem, senão teria de casar com uma mulher.” (Madame de Stael)
“Um bom marido devia ser
surdo e uma boa esposa cega.” (Provérbio)
“Quando o homem torna uma
mulher sua esposa, isso é o maior cumprimento que pode fazer a ela; em geral é
o último.” (Helen Rowland)
“Quando um homem deve casar?
Quando jovem, ainda não; quando mais idoso, de maneira nenhuma.” (Bacon)
“Que Deus ajude o homem que
não se casa enquanto não encontra uma mulher perfeita, e que Deus o ajude ainda
mais quando a encontrar.” (Benjamin Tillett)
“Os únicos que seriam bons
maridos permanecem solteiros: mostram consideração demais para casar.” (Finley
Peter Dunne)
“Os solteirões possuem
consciência, os casados possuem esposas.” (H. L. Mencken)
“Os solteirões entendem
mais de mulheres que os casados; do contrário também estariam casados.” (H. L.
Mencken)
“O arqueólogo é o melhor
marido que uma mulher pode ter: quanto mais velha ela fica, mais interesse ele
tem por ela.” (Agatha Christie)
“Casamento: comunidade
composta de um chefe, uma patroa e dois escravos, totalizando duas pessoas.”
(Ambrose Bierce)
“O homem é de fogo, a
mulher de estopa: o diabo chega e sopra.” (Cervantes)
“Nem todas as mulheres
casadas são esposas.” (Provérbios)
“Se você ainda não viu sua
esposa sorrir para um guarda de trânsito, não conhece o melhor sorriso que ela
sabe dar.” (Kin Hubbard)
“Matrimônio: mar alto para
o qual ainda não foi inventada qualquer bússola.” (Heine)
...
Fonte: LEITE, Celso Barroso. (Org.) O livro das citações - para todas as ocasiões. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint Ltda, sd.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Giacomo Leopardi: o belo no contexto do pessimismo, da dor e da melancolia. Da dor pessoal para uma Filosofia da dor.
Giacomo
Leopardi nasceu em Recanati na Itália no dia 29 de junho de 1789 e faleceu em
Nápolis a 14 de junho de 1837. É um dos maiores poetas da lírica italiana. O
poeta dá uma solução pessimista e melancólica para a crise dos valores
decorrente do fim do Iluminismo e da Revolução Francesa.
Poemas:
O infinito
L' Infinito
Imitação
A si mesmo
A Se Stesso
À Lua
Frases:
“Os melhores momentos do
amor são aqueles de uma serena e doce melancolia, em que choras sem saber porque, e quase aceitas tranquilamente uma desventura que não conheces.”
“Não há nada que demonstre
tão bem a grandeza e a potência do intelecto humano, nem a superioridade e a
nobreza do homem, como o fato de ele poder conhecer, compreender por completo e
sentir fortemente a sua exiguidade.”
“Não existe maior indício
de ser pouco filósofo e pouco sábio do que desejar uma vida inteira de
sabedoria e filosofia.”
“É curioso observar que
quase todos os homens que valem muito têm maneiras simples, e que quase sempre
as maneiras simples são vistas como indício de pouco valor.”
“A alma tende sempre a
julgar os outros pelo que pensa de sim mesma.”
CRÉDITO: Tradução de Mariajosé de Carvalho.
CRÉDITO: Tradução de Mariajosé de Carvalho.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Homenagem na forma de agradecimento ao maior (na minha opinião) escritor de contos fantásticos: Jorge Luis Borges.
Jorge Luis Borges nasceu em
24 de agosto de 1899 em Buenos Aires e faleceu na Suíça (Genebra) em 14 de
julho de 1986. Foi um escritor precoce. Aos seis anos de idade disse ao pai que
queria ser escritor e aos sete começou a escrever.
"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém,
não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos.
Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha
emoção". (Borges)
Este é o meu conto
fantástico preferido porque me ajudou muito a tornar-me o que sou hoje. Em cada palavra e em cada frase sempre me
deparo com uma surpresa o inusitado, mas que provoca e instiga. Desde as cores
(cinza, amarelada, branca que velhos olhos não enxergam etc.) aludidas em
diversas passagens até uma geografia sem preocupação com um onde cartograficamente
fixo. Uma integração desconcertante do futuro com o passado. Uma clepsidra
(relógio de água) sobre a mesa, retorno ao latim, Hitler como filantropo, fatos
como coisas sem nenhuma importância, a falta de função para o dinheiro, o fim
das cidades, o desuso dos governos, e por aí a fora. Mas o que mais me marcou
foi a solução para a questão da solidão. Esta passou a ser uma coisa
extremamente positiva em minha vida. Aprendi a estar comigo mesmo e aproveitar
cada instante sendo eu mesmo, aceitando a ideia de que cada um deve produzir
sua própria obra, sua própria arte, sua própria ciência sem a preocupação com nenhuma
crítica, a não ser a sua própria.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Experiência poética VI: Não te quero mais!
Não te quero mais!
Jairo Melgaço.
Não te quero mais!
Toda seiva secou,
A tenra folha murchou,
Em pó puro tudo virou,
Pueril poeira vegetal,
Que ao vento pousou
Na terra que não mais acolhe,
Que não mais pulsa,
Que não mais vida tem,
Que inerte,
Que estéril
Não mais deixará de assim ser,
Sempre desta forma,
Para nunca mais ressurgir
Da completa morte
Nunca mais florescer,
Pois, do nada,
Nada pode ser,
Nada pode nascer.
Não te quero mais!
O meu olhar já não te vê,
O meu coração não mais te sente,
A proximidade ficou distante,
A cumplicidade agora é o disfarce escondido
Do enganar que já não mais engana.
A realidade aflorou nua e crua,
O mundo se mostrou na sua crueldade irreversível,
O teu perfume não mais me embriaga,
No fundo do teu olhar não enxergo mais tua alma,
Não enxergo mais nenhum desejo me guiando
Em tua direção.
O que sinto é total vazio,
Sem contornos,
Sem conteúdo,
Somente uma vontade de perto não estar,
Para melhor e fundo respirar
A brisa leve da liberdade,
De ir onde queira o meu querer
Com quem me querendo eu quiser,
Com os motivos mais fúteis,
Mais fundamentais,
Diversos,
Sem nenhuma importância,
Mesmo assim vitais,
Sem objetivo claro algum,
Na direção certa do certo da minha vida,
Da qual parte já não és.
Partir simplesmente,
Ir indo
Onde a estrada,
Onde a trilha me leva
Sem você,
Que não quero mais,
Nunca mais!
Não te quero mais!
A decepção,
Da errada escolha,
Do falso amor
Do verdadeiro desamor,
Sem nenhum rancor,
Do desencontro de visualizados futuros
Incompatíveis,
Incongruentes paralelos infinitos
Em direções opostas,
Que nunca se encontram,
Que nunca se integram,
Que nunca se complementam.
Apenas duas diversas sentenças
Em duas vontades estranhas,
Olhando em direções contrárias,
Buscando o diferente,
O que não se compraz,
Com prazer nenhum,
Inexistente harmonia
Do sossego algum,
Da paz nenhuma,
Sem nenhum elo conjugal comum.
Por isto e mais outros tantos,
E talvez mais ainda,
Não te quero mais,
Nunca mais!
André Gide: De como é possível retirar muita coisa boa de um escritor considerado maldito (sem a preocupação aqui de saber se justa ou injustamente).
Por que alguns escritores são considerados malditos? Por suas opiniões
contrárias a uma moral dominante? Pelos temas abordados? Lautréamont,
Baudelaire, Jean Genet, William Blake, Poe, Sade, Proust, Antonin Artaud, Kafka,
Emily Bronte¨, Michelet, Rimboud, Paul Verlaine, Alvares de Azevedo, Nelson
Rodrigues, Sousândrade, João
Antônio, Paulo Lemisnki, Alice Ruiz são alguns exemplos. A lista
vai longe. Teriam eles somente coisas condenáveis? Que critérios pertinentes e
quem teria o direito de julgá-los?
André Paul Guillaume Gide,
Prêmio Nobel de Literatura de 1947, nasceu em Paris em 22 de novembro de 1869 e
faleceu de congestão pulmonar, no dia 19 de fevereiro de 1951. No ano seguinte,
a Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício, em Roma, inscreveu sua obra
inteira no Index Lbrorum Prohibitorum.
“Que meu livro te ensine a
te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais –
mais do que por ti.”
...
“(...) passei três anos de
viagem a esquecer (...) tudo que aprendera com a cabeça.”
...
“Suprimir em si a ideia de mérito; eis uma grande prova para o
espírito.”
...
“A melancolia não é senão
um fervor que decaiu.”
...
“Todo ser é capaz de nudez;
toda emoção, de plenitude.”
...
“Nossos atos prendem-se a nós como a luz ao
fósforo. Consomem-nos, é certo, mas fazem nosso esplendor. E se nossa alma pode
valer alguma coisa foi porque ardeu com mais ardor do que algumas outras.”
...
“ASSUMIR O MAIS POSSÍVEL DE
HUMANIDADE, eis a boa fórmula.”
...
“O sábio é quem com tudo se
espanta.”
...
“Que o homem nasceu para a
felicidade, por certo toda a natureza o ensina. É o esforço para a volúpia que
faz germinar a planta, enche de mel a colmeia, e o coração humano de bondade.”
...
“Sonho com novas harmonias.
Uma arte das palavras mais sutil e mais franca; sem retórica; e que não procure
provar coisa alguma.”
...
“Ah, quem libertará meu espírito
das pesadas cadeias da lógica? Minha mais sincera emoção, ao exprimi-la, logo
se falseia.”
...
“A vida é talvez mais bela
do que os homens consentem que seja. A sabedoria não está na razão e sim no amor.
(...) Ó libertação! Ó liberdade! Até onde meu desejo puder estender-se irei.
Tu, que amo, vem comigo; eu te carregarei até lá para que possas ir mais longe
ainda.”
...
“Tudo que não sabes dar te
possui.”
...
“Senhor, Ah! dai-me a
felicidade de não esperar a morte para morrer.”
...
“Minha felicidade consiste
em aumentar a dos outros. Preciso da felicidade de todos para ser feliz.”
...
“Penso: logo sou. E
igualmente: sofro, respiro, sinto: logo sou. Pois se não pode pensar sem ser,
pode-se ser sem pensar.”
...
“É para a volúpia que se
esforça toda a natureza. (...) Ela dispõe a corola para os beijos dos raios de
sol, convida para as núpcias tudo que vive, (...) e faz a borboleta escapar da
prisão da crisálida. Guiado por ela, tudo aspira a um maior bem-estar, a mais
consciência e progresso... Eis porque encontrei mais ensinamentos na volúpia do
que nos livros; porque encontrei nos livros mais obscurecimento do que
claridade.”
...
“Não, não houve nem
diminuição de desejos, nem saciedade, com a idade; mas, amiúde, sentindo em meus
lábios ávidos o esgotamento demasiado rápido do prazer, a posse parecia-me de
menor valor que a procura e dia a dia mais ia preferindo a sede a matar a sede,
a promessa de volúpia à própria, a ampliação do amor à sua satisfação.”
...
“Oh, tudo o que não fizemos
e, no entanto teríamos podido fazer... pensarão eles, no momento de deixarem a
vida. (...) a hora que passa, passa definitivamente.”
...
“O medo do ridículo arranca de nós as mais
tristes covardias. (...) – pois se o futuro consentisse em ser unicamente a
repetição do passado, estaria nisso a consideração mais capaz de me arrancar
toda alegria de viver.”
...
“Quero mal a tudo o que
diminui o homem; a tudo o que tende a torná-lo menos sábio, menos confiante e
menos vivo.”
...
“Só me comprazo com o que
respira e pode viver. (...) Quero saber o que há de jactância em tua virtude,
de interesse em teu patriotismo, de apetite carnal e de egoísmo em teu amor.”
...
“Camarada, não aceites a
vida tal qual a propõem os homens. Não cesses de te persuadir que ela poderia
ser mais bela, (...) Quando começares a compreender que o responsável por todos
os males da vida não é Deus, que os responsáveis são os homens, não te
conformarás mais com esses males.”
...
“Nathanael, agora,
joga fora meu livro. Emancipa-te dele. Abandona-me. Deixa-me, (...) Estou farto
de fingir educar alguém.(...) Educar! – E a quem educaria, senão a mim mesmo?
Só te apegues em ti ao que sintas que não se encontra alhures senão em ti, e
cria em ti, impaciente e pacientemente, ah! o mais insubstituível dos seres.”
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