terça-feira, 24 de julho de 2012

Dançar a vida! Até que ponto isto é possível e tem sentido? No prefácio do livro Maurice Béjart diz ser sinal dos tempos um filósofo e homem de ação, Roger Garaudy, se ocupar com os problemas da dança. Isadora Duncan, Martha Graham e Doris Humphrey estão incluídas na obra. Vale a pena ler e, principalmente retirar lições de cultura e de vida!







Ezra Pound: coletânea miúda.




SAUDAÇÃO
Ezra Pound

Oh geração dos afetados consumados
E consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
E escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nada no lago
E não possuem nem o que vestir.
(Tradução de Mário Faustino)


"Ele foi para a poesia deste século o que Einstein foi para a física", disse E.E.Cummings, corroborado por Hemingway: "Um poeta deste século que afirme não ter sido influenciado por Ezra Pound merece mais a nossa piedade que a nossa reprovação".
(trecho de um comentário de Haroldo de Campos
extraído do livro: Ezra Pound - Poesia)
.


E ASSIM EM NÍNIVE
Ezra Pound


“Sim, sou um poeta e sobre a minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

“Vê! Não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou um poeta e sobre a minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

“Não é, Raana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho.”

Do livro:
POUND, E. Antologia poética de Ezra Pound. Organização, apresentações e traduções por CAMPOS, A.; CAMPOS, H.; FAUSTINO, M.; H; PIGNATARI, D.; GRÜNEWALD, J.L. Lisboa: Ulisséia, 1968.




AND THUS IN NINEVEH
Ezra Pound

"Aye! I am a poet and upon my tomb
Shall maidens scatter rose leaves
And men myrtles, ere the night
Slays day with her dark sword.

"Lo! this thing is not mine
Nor thine to hinder,
For the custom is full old,
And here in Nineveh have I beheld
Many a singer pass and take his place
In those dim halls where no man troubleth
His sleep or song.
And many a one hath sung his songs
More craftily, more subtle-souled than I;
And many a one now doth surpass
My wave-worn beauty with his wind of flowers,
Yet am I poet, and upon my tomb
Shall all men scatter rose leaves
Ere the night slay light
With her blue sword.

"It is not, Raana, that my song rings highest
Or more sweet in tone than any, but that I
Am here a Poet, that doth drink of life
As lesser men drink wine."


O SOBRADO 
Ezra Pound 
[Tradução Lauro J.M. Marques] 


Vem, apiedemo-nos daqueles que estão melhor que nós. 
Vem, amiga minha, e recorda 
.......que os ricos têm mordomos e não amigos, 
E nós temos amigos e não mordomos. 
Vem, apiedemo-nos de casados e solteiros. 

A aurora entra com seus pezinhos 
.......como uma dourada Pavlova 
E estou próximo ao meu desejo. 
Não há coisa melhor no mundo 
Que essa hora de claro frescor 
.......a hora de despertarmos juntos.



N.Y.
Ezra Pound


¡Ciudad mía, mi amor, blanca mía! ¡ah, esbelta,
óyeme! Óyeme y un alma te infundirá mi soplo.
Suavemente en el caramillo, ¡escúchame!

Ciudad mía, mi amada,
eras una doncella todavía sin pechos,
esbelta como un caramillo de plata.
¡Ahora óyeme, escúchame¡
y un alma con mi soplo te daré.

Versión de Javier Calvo



COMUMENTE É ASSIM 
 Vladimir Maiakóvski


“Cada um ao nascer 
traz sua dose de amor, 
mas os empregos, 
o dinheiro, 
tudo isso, 
nos resseca o solo do coração. 
Sobre o coração levamos o corpo, 
sobre o corpo a camisa, 
mas isto é pouco. 
Alguém 
imbecilmente 
inventou os punhos 
e sobre os peitos 
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem. 
A mulher se pinta. 
O homem faz ginástica 
pelo sistema Muller. 
Mas é tarde. 
A pele enche-se de rugas. 
O amor floresce, 
floresce, 
e depois desfolha.



Fragmentos:
Vladimir Maiakovski

“...nenhum som me importa 
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno, 
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora 
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.”


“O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração.


“Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.



A Esperança
Vladimir Maiakovski

Injeta sangue no meu coração, enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre ,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte, mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel, num canto do quarto, encolhido, como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem não é senão para vos morder ou dilacerar. O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...
Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares dar-vos-ei em versos.
Eu amei... mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?


 

Não acabarão nunca com o amor

Vladimir Maiakovski


Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço juramento:
amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


E então, que quereis?

Vladimir Maiakovski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
ubiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo, mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

Futebol Arte!







sexta-feira, 20 de julho de 2012

Link do Youtube

Ao meu conterrâneo que temos em comum esta fonte autóctone de lições poéticas de vida (Emílio Guimarães Moura), que deveria ser visitada com muito maior frequência, para que possa ser saciada essa nossa premente e constante necessidade de aprender a viver!


LIBERTAÇÃO


Sou um poeta quase místico:
A vida é bela quando é um êxtase.
Ah! Não ter um pensamento, um só pensamento no cérebro,
não vigiar a vida, a vida inquieta, a vida múltipla da sensualidade,
mas vivê-la, de olhos cerrados, num silêncio cheio de ritmos;
não ouvir as palavras frias que mudam o destino,
ou que o fazem semelhante a um autômato;
e saber a toda hora,
saber sempre,
que a vida é bela quando é um êxtase.


MEU CORAÇÃO

Penso agora nos mortos que não tem nome,
nos vivos que não tem nome;
penso agora naqueles que vieram cedo demais e se cansaram,
e naqueles que chegaram depois que todas as portas já estavam fechadas.
Penso agora na sede do homem desesperado que se deixou ficar no deserto;
nos que lutaram inutilmente por caminhos que não levaram a nada;
nos que se calaram, porque compreenderam,
e nos que disseram todas as palavras e não foram compreendidos.
Por que foi que, de repente,
todas as vidas se somaram
para me envolver neste momento?
Meu coração se multiplica:
agora é apenas meu coração que está palpitando no mundo.


TRÊS CAMINHOS

Percorri tantos caminhos,
tantos caminhos andei.
O primeiro era de nácar,
de rosa pura o segundo.
O terceiro era de nuvem,
no terceiro te encontrei.
O primeiro já trazia
teu nome brilhando no ar.
Não era nome da terra:
cantava coisa do mar.
Logo senti que o segundo
já era estrada de encantar.
Mas, o terceiro, o terceiro
quantas voltas não foi dar!
Deixou meu corpo na terra,
Meu coração no alto mar.
Virou vento, virou bruma,
perdeu-se, rápido, no ar.


FOI INÚTIL

"Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino."
Manuel Bandeira
Entre nós dois, que puseram?
O mar, o rio, a floresta?
Levantaram tanta pedra,
levantaram tanto muro,
gritaram tantas palavras...
Mas, de que foi que valeu?
Que foi que valeu tudo isso:
O mar, o rio, a floresta,
tanto muro, tanta pedra,
e tantas, tantas palavras,
se estás em tudo que penso,
se estás em quanto imagino?




Rainer Maria Rilke: breves, mas profundas lições de vida do poeta de Praga!








Aprendendo a caminhar o caminho da vida com Walt Whitman: o poeta que concilia simplicidade com profundidade!







Relíquia Filosófica III: Por que rimos? Somente os seres humanos riem? Que método utilizar para responder estas e outras questões sobre o cômico? Henri Bergson deu sua importante contribuição neste sentido!















quarta-feira, 18 de julho de 2012

Homenagem a um autor e um livro muito pouco conhecido, mas fonte de cultura inquestionável. Este é um dos livros que foram degraus fundamentais na minha escalada rumo ao fundo das coisas.









O arrasta pé do repe- rrepe que nem de música precisa.


O arrasta pé do repe-rrepe.
Próximo ao rancho, que ficava perto do morro do “Chiquinho”, tinha a sede de uma fazenda cujo dono tinha algumas filhas solteiras. Elas trabalhavam o dia todo na roça ficando avermelhadas do sol e pretas do carvão. Um dia uma delas veio nos convidar para a “dança” que ia ter lá na casa dela. Estávamos todos bem perto da fornalha, provando alguma coisa e bebendo algo para esquentar um pouco e, é claro, com o companheiro de sempre, o violão.
“Aqui nóis dança quase todo dia. Sábado que vem vai ter dança lá em casa. Por que ocêis num vão também? Afinal é aqui do lado, uai. Vai ser escurecendo...”.  
O resto dos dias até o esperado sábado não demorou muito a passar. Também a nossa tarefa estava bem pesada. Precisávamos terminar o rancho o mais rápido possível para podermos passar para o trabalho de preparar a terra e plantar o café. Já no sábado à tarde eu sempre dava uma olhadela na direção da casa onde ia ter a dança para sentir a movimentação.
Chegamos já escurecendo. O horizonte estava avermelhado anunciando um friozinho. Apesar disto a noite prometia ser agradável. O gravador de fita estava roncando mais que tocando a música que era um animado forró. Ninguém estava incomodado com isso. A sala da casa estava que não cabia mais ninguém. Alguns poucos mais tímidos estavam sentados, a maioria, no entanto estava literalmente arrastando o pé no chão batido, que exalava uma poeirinha quase invisível. A animação era contagiante. A ordem geral era não parar de dançar. Não tendo cavalheiro vai dama. Não tendo dama vai cavalheiro. Não tendo nenhum dos dois dança-se sozinho mesmo. De repente a fita embucha no toca fita portátil. Um dos filhos do dono da casa corre com ele para o quarto do lado da sala e começa a desmontá-lo. Logo só se vê um monte de peças sobre a cama. Fui lá prá ver e desanimei. Tirar as peças do lugar é fácil, difícil é encaixá-las de novo no lugar onde estavam. O “técnico” não fazia a menor idéia de como fazer isso. O que ele sabia mesmo é que no canto debaixo de uma das camas tinha um garrafão de pinga da boa, que o pai dele nem sonhava que existia.
“Ôu’, pega uma lá prô cê... é da boa. Fica vigiando aí ‘Ôu’, que o Pai não pode vê se não ele joga tudo fora, uai! Pode pegá lá e põe uma prá mim tamém.”
A danada da pinga era boa mesmo. Na sala estava todo mundo como encontramos na chegada – arrastando o pé e relando o bucho. A música agora vinha do opala branco parado em frente da casa. O som lá fora e o baile aqui dentro! De vez em quando se via alguém entrando meio furtivamente no quarto aparentemente para olhar se o gravador tinha conserto. Com certeza não tinha, no entanto, a cada momento aparecia um animado para dar uma boa olhada nele. Isso foi boa parte da noite, até que o dono da casa desconfiou daquele entra e sai no quarto onde jazia inerte um monte de peças do tijolo Aiko, junto da sua capa de couro preta com a alça que permitia colocá-lo a tira colo.
“Mais que negócio é esse que ocêis num para de entrar nesse quarto? Consertando o gravador até agora? Tem música já, afinal que que isso hem???”
Acabou de falar já entrando no quarto e revirando embaixo das camas.
“Ahhhh! Eu sabia que era a danada da marvada que num tem jeito mesmo! Ô Véia, vem vê o guardado aqui! (Essa senhora era conhecida como Maria-rádio, pois começava a conversar com as visitas desde que eles passavam pela porteira que dá acesso à varanda da frente da casa. O único problema é que a porteira ficava a mais de 500 m, o que impedia a possibilidade da conversa, mas isso para ela não era problema. Então o que acontecia é que a conversa já estava bem adiantada quando na varada a visita chegava. E também nada adiantaria se não estivesse, pois só ela é que falava mesmo. Ela não dava nenhuma chance para alguém abrir a boca. Diante de qualquer ameaça acelerava a prosa e aumentava o volume. Só parava quando a visita estava de novo na porteira para ir embora. Será isso um tipo de doença?).
Mas, voltando para a “marvada” da cachaça, o garrafão que estava pouco abaixo da metade estava prestes a chegar até a pia da cozinha para ser completamente esvaziado. Três companheiros da turma foram tentar salvar a embriaguês total da pia da cozinha. Afinal era cerca de dois litros e meio. Conseguiram depois de explicar que a pinga era de um deles e que ele prometia esconder no mato, para levar para casa quando fosse embora.
“Então prá acabar com essa história dá um jeito de escondê essa coisa lá fora no mato de jeito que só o Sinhô sabe aonde tá, prá num dá pobrema, que eu já desacasuei com essa coisa que deixa todo mundo doido de briga, sem sabê porquê... Inté otro dia o fato com as tripas do Zeca foi liberado pela pexera do Quim. Esse tal no outro dia num lembrava de nada e cedo passô na casa do seu companheiro de lida, o Zeca, e não é que deparô com ele com as canela esticada de terno e já acomodado dentro do madeirame.”
Mais do que depressa o garrafão foi escondido numa moita perto da varanda da entrada da casa. Resolvido o problema voltou todo mundo para o arrasta pé. E agora mais animado do que nunca. A maioria já estava com o tanque cheio, sendo que alguns estavam prá trasbordar combustível. Mesmo assim, não demorou muito e agora a oficina para consertar o gravador era na moita onde estava a “marvada”. Só que agora não era mais oficina e sim mictório. Nunca se viu tanta vontade de ir tirar a água do joelho naquelas proximidades.
A fita que tocava no opala branco não demorou muito começou a rodar cada vez mais devagar, alterando a rotação e tornando a voz do cantor cada vez mais rouca e lenta...  Até que parou de vez.
“É a bateria... vou ligar o carro e logo tá resolvido”, falou animado a dar um jeito o dono do opala.
Quem disse que o danado do opala pegou. A bateria tinha arriado de vez.
“Vamo empurrá que pega... é só virá e embicá prá li ó, descendo o morro.”
Fizemos uma força danada concordando com a ideia do dono do carro. Empurramos e soltamos morro abaixo.
“Vai, agora... vai sô. Põe segunda e solta a embreagem e liga a chave...”
E quando a chave estava ligada e a segunda engatada o opala já estava parado bem no final do morro que não era muito longo. Não adiantava soltar. Agora é que levou a breca. O opala encalhado no meio de dois morros: um que podia ser visto pelo parabrisas e o outro pelo retrovisor.
“Vamu empurrá prá cima e soltá de novo...” Gritou o dono do opala lá de baixo fazendo pose com o braço apoiado na janela do motorista.
 “Cê tá é brincando né? Já tô todo suado, oia qui ó?” Reclamou um da turma que arrematou: “Nóis num dá conta de jeito nenhum não...”
“E a junta de boi? Alguém vai buscá...” Insistiu mais uma vez o motorista do opala.
“Cê tá é doido, home. Larga isso aí, que amanhã a gente dá um jeito”.
O opala ficou no mesmo lugar estatelando no sol por cerca de uma semana atrapalhando a passagem. Teve que ser empurrado prá um lado prá abrir caminho, o que não foi suficiente. A enxada teve que comer barranco para o leiteiro passar, mas mesmo assim não deu certo. Por uns três dias o caminhão chegou até o opala e voltou de ré até a porteira onde conseguia espaço suficiente para virar.
O fato é que quando entrei na sala novamente custei a acreditar no que vi. O baile continuava sem música. Todo mundo dançando no ritmo do som do repe-rrepe, repe-rrepe dos pés no chão batido. Durante um bom tempo continuou assim. Até que todo mundo foi se despedindo e indo embora mais ou menos ao mesmo tempo.
“Vai tê dança amanhã?”
Perguntava um de cada vez quando ia se despedindo. O dono da casa ficou cansado de dar a mesma resposta por várias vezes.
“Não! Amanhã vai tê é reza. Tão tudo convidado. E se océis quizé já pode ir adiantano e já poder trazê as prendas pru leilão de domingo que vem na a Igreja de Nossa Senhora. Vai sê depois da missa...”.
Os moradores do Trêis Capão naquela época estavam fazendo uma campanha para mudar o nome do povoado para Senhora da Serra.
O horizonte avermelhado há muito tinha dado passagem para uma lua quase cheia. Aos poucos os moradores daquele sertão estavam todos bem acomodados debaixo das cobertas, repondo as energias para o domingo que não demoraria a raiar. Ainda bem que ele permitia ficar mais um pouco na cama pela manhã.