terça-feira, 10 de julho de 2012

Questão de Método.

"Trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar" Maurice Merleau -Ponty (Prefácio da Fenomenologia da Percepção)

A narrativa e o sentimento do tempo. Heidegger, Gadamer e Ricouer. O que poderia servir de justificativa para uma narrativa expressar o sentimento de certo tempo? Existiria uma tipificação social-geográfica para determinados comportamentos, preconceitos e crenças num personagem humano hodierno? Que traços característicos teria o brasileiro? Começar pelas diferenciações regionais seria interessante na medida em que se pode perguntar o que fica e o que permanece nesta tipologia humana, da mesma forma o que permanece na mudança. Será que somente a língua, a religião (que vem mudando seu perfil), a cultura (podemos reconhecer sem reservas a existência de UMA cultura brasileira?), entre outros. Começaria dizendo que narrativa neste caso somente teria sentido se fosse da própria vida de quem realiza a narrativa. Seguindo Heidegger somos nós próprios os entes a ser objeto de análise. Narrar a análise de si mesmo! Seria esta a justificativa para expressar o sentimento do tempo que se está vivendo? Como enxergar o momento histórico no qual se está inserido sem os vieses dos nossos preconceitos e crenças? Enxergar com os olhos dos outros é possível? As respostas virão na medida em que seja dado início à prática da narrativa. Que grau de realismo é possível? Casar o realismo com a ficção talvez seja uma necessidade. Como ser um livro aberto hoje nas condições reais de existência. Uma forma de preservar o privado da vida de quem está realizando a narração. Por onde terá início tal casamento? Quem vem primeiro? O real ou a ficção? Somente o narrador terá essa informação. E as pessoas com as quais conviveu e com certeza conhecem diversas passagens da vida narrada terão muitas dessas informações também, no entanto, nunca a totalidade dos momentos narrados. Pensar na possibilidade de que outra pessoa alem do narrador possa ter vivido todos os momentos de forma conjunta e concomitantemente por todos os anos de vida narrados, seria no mínimo ilógico. No nascimento começa a vida, mais do que óbvio. Seria esse o começo da narrativa? Machado de Assis uma vez pelo menos começou do pós-morte no “Dom Casmurro”, se não me engano. Nesse caso não é possível, pois o narrador deve narrar sua própria vida e para isso necessariamente deve estar em condições de fazê-lo. A morte certa não pode ainda ter dado as caras. Ainda há vida e, portanto a possibilidade de narrar o que se sente no próprio tempo vivido. Que sentimentos podem aflorar? Cansaço misturado com sono e um monte de ideias que não param de ulular dentro do cérebro. Devo ligar a TV agora ou daqui a pouco? Será que já começou o programa que quero assistir. É preciso levantar e ir até a TV para ligá-la. O teclado escraviza. Ah! Mas agora eu ligo. Posso aproveitar para tomar uma água e esticar as pernas e quem sabe olhar pela janela e ver o que acontece na praça em frente. Pelo que é possível escutar parece que a praça começa a esvaziar-se. O silencio começa a predominar sendo cortado apenas pelo barulho constante (ainda) dos escapamentos dos veículos que passam em diversas direções.

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