terça-feira, 10 de julho de 2012

Prosopopeia III


Agora não resta nenhuma dúvida: vai ser prosopopeia de verdade. Podemos pensar que Kant seja o inverso de Berkeley já que este negou a realidade externa, e aquele provou sua existência. Importa ficar nos preocupando se existe ou não o mundo e muito mais saber quais os limites do nosso mundo? Um dos primeiros a propor uma divisão dual para o mundo foi com certeza Platão: o mundo aparente e o mundo real. Nietzsche negou a existência desses dois mundos para afirmar a vida e sugerindo que devemos parar de procurar por um mundo que está além do nosso alcance. Eu prefiro também a ideia de um único mundo, esse mundo no qual vivemos aqui e agora. Não estou dizendo que Kant tenha cometido algum erro neste caso específico. Como não podemos extrapolar os limites do mundo no qual vivemos o que nos impede de pensar que na verdade o que existe mesmo é uma totalidade composta por essas duas partes de forma integrada e unificada, num contexto complexo de fluxo de vida, no qual nossos corpos interagem com o entorno. Eureka: surpreendente mesmo é Edgar Allan Poe que pensava que essa totalidade, tudo que existe, o universo é um grande poema escrito por Deus. Não é por acaso que já se afirmou que “a imaginação dispõe de tudo!” Então imaginemos. Afinal são prosopopeias. A respiração que circula entre o céu e a terra e da terra para o céu, passando pelo lavar e banhar originando a possibilidade de aumento da fronteira original conforme o misticismo oriental pode significar uma expansão não só do tempo de vida, mas também da sua qualidade em termos de satisfação dos próprios sonhos. A água que circula por entre todo o mundo vivo e inerte com sua capacidade única de solvente universal pelos seus dois polos elétricos contrários bem definidos também pode contribuir para isto. Os minerais que estruturam o mundo todo, dos ossos às grandes cadeias de montanhas e fundos oceânicos colaboram para o mesmo resultado? E assim por diante poderíamos continuar verificando e questionando essas relações? Não há de um lado nossos corpos e de outro o mundo exterior. Existe um mundo onde tudo e todos se interagem. Talvez uma forma de holismo. Querer um status particular e específico para nós seres humanos é aceitar a máxima de Protágoras de que o homem seja a medida de todas as coisas? O fato aceito pelos geógrafos de uma maneira geral depois que Élisée Reclus publicou L'Hombre et la Terre afirmando que “o homem é a natureza adquirindo consciência de si própria” implica necessariamente que podemos nos considerar diferentes do resto do mundo vivo? Linguagem, ciência e tecnologia, entre outros tantos, são diferenciais de peso nesta questão. Lao Tsé não teve dúvidas quanto a isso e concluiu que os humanos são uma das dez mil manifestações que formam o mundo e sem status especial. E você que está tendo a paciência de ler toda essa prosopopeia o que acha o que pensa? Será que é possível mesmo viver no fluxo do Tao sem perturbar seu equilíbrio harmonioso? Que tal tentar? 

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