sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ao meu conterrâneo que temos em comum esta fonte autóctone de lições poéticas de vida (Emílio Guimarães Moura), que deveria ser visitada com muito maior frequência, para que possa ser saciada essa nossa premente e constante necessidade de aprender a viver!


LIBERTAÇÃO


Sou um poeta quase místico:
A vida é bela quando é um êxtase.
Ah! Não ter um pensamento, um só pensamento no cérebro,
não vigiar a vida, a vida inquieta, a vida múltipla da sensualidade,
mas vivê-la, de olhos cerrados, num silêncio cheio de ritmos;
não ouvir as palavras frias que mudam o destino,
ou que o fazem semelhante a um autômato;
e saber a toda hora,
saber sempre,
que a vida é bela quando é um êxtase.


MEU CORAÇÃO

Penso agora nos mortos que não tem nome,
nos vivos que não tem nome;
penso agora naqueles que vieram cedo demais e se cansaram,
e naqueles que chegaram depois que todas as portas já estavam fechadas.
Penso agora na sede do homem desesperado que se deixou ficar no deserto;
nos que lutaram inutilmente por caminhos que não levaram a nada;
nos que se calaram, porque compreenderam,
e nos que disseram todas as palavras e não foram compreendidos.
Por que foi que, de repente,
todas as vidas se somaram
para me envolver neste momento?
Meu coração se multiplica:
agora é apenas meu coração que está palpitando no mundo.


TRÊS CAMINHOS

Percorri tantos caminhos,
tantos caminhos andei.
O primeiro era de nácar,
de rosa pura o segundo.
O terceiro era de nuvem,
no terceiro te encontrei.
O primeiro já trazia
teu nome brilhando no ar.
Não era nome da terra:
cantava coisa do mar.
Logo senti que o segundo
já era estrada de encantar.
Mas, o terceiro, o terceiro
quantas voltas não foi dar!
Deixou meu corpo na terra,
Meu coração no alto mar.
Virou vento, virou bruma,
perdeu-se, rápido, no ar.


FOI INÚTIL

"Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino."
Manuel Bandeira
Entre nós dois, que puseram?
O mar, o rio, a floresta?
Levantaram tanta pedra,
levantaram tanto muro,
gritaram tantas palavras...
Mas, de que foi que valeu?
Que foi que valeu tudo isso:
O mar, o rio, a floresta,
tanto muro, tanta pedra,
e tantas, tantas palavras,
se estás em tudo que penso,
se estás em quanto imagino?




Nenhum comentário:

Postar um comentário