terça-feira, 24 de julho de 2012




COMUMENTE É ASSIM 
 Vladimir Maiakóvski


“Cada um ao nascer 
traz sua dose de amor, 
mas os empregos, 
o dinheiro, 
tudo isso, 
nos resseca o solo do coração. 
Sobre o coração levamos o corpo, 
sobre o corpo a camisa, 
mas isto é pouco. 
Alguém 
imbecilmente 
inventou os punhos 
e sobre os peitos 
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem. 
A mulher se pinta. 
O homem faz ginástica 
pelo sistema Muller. 
Mas é tarde. 
A pele enche-se de rugas. 
O amor floresce, 
floresce, 
e depois desfolha.



Fragmentos:
Vladimir Maiakovski

“...nenhum som me importa 
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno, 
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora 
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.”


“O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração.


“Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.



A Esperança
Vladimir Maiakovski

Injeta sangue no meu coração, enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre ,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte, mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel, num canto do quarto, encolhido, como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem não é senão para vos morder ou dilacerar. O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...
Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares dar-vos-ei em versos.
Eu amei... mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?


 

Não acabarão nunca com o amor

Vladimir Maiakovski


Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço juramento:
amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


E então, que quereis?

Vladimir Maiakovski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
ubiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo, mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

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